PS deve "manter diálogo" com BE e PCP. "No futuro teremos novamente essa necessidade"
Miguel Costa Matos defende que os partidos que formaram a geringonça devem sentar-se à mesa para "sarar a quebra" do chumbo do Orçamento.
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Com a maioria absoluta, e numa altura em que os partidos à esquerda do PS criticam António Costa pela falta de diálogo, o líder da Juventude Socialista (JS), Miguel Costa Matos, apela ao Governo que "mantenha pontes de diálogo", numa altura em que o bloco à direita parece estar à espreita, com o PSD "a subalternizar-se ao Chega".
Miguel Costa Matos, que se recandidata a um segundo mandato na estrutura socialista, defendeu a opção pela geringonça, em 2015, e mantém as portas aberta ao Bloco de Esquerda e ao PCP, até porque "as maiorias absolutas são raras".
Em entrevista à TSF, depois de anunciar a recandidatura à JS, Miguel Costa Matos lembra que, apesar da maioria absoluta, "no futuro o PS vai voltar a necessitar" de dialogar à esquerda e, na atual legislatura, "é importante manter o hábito".
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Para Costa Matos, os partidos que formaram a geringonça devem sentar-se à mesa para "sarar a quebra que houve há um ano", quando Bloco e PCP votaram contra o Orçamento, "com maturidade intelectual" para conseguir respostas em conjunto.
O também deputado e vice-presidente da bancada socialista, no Parlamento, defende que o PS "deve assumir-se como o grande partido da esquerda democrática", sem abdicar dos valores próprios como "o europeísmo e o atlanticismo".
"Devemos ter uma visão de esquerda para combater as desigualdades e promover a igualdade de oportunidades. É o único caminho para haver liberdade e justiça social a sério", acrescenta.
As eleições em Itália, com a direita a unir-se para formar Governo, devem também servir de exemplo, numa altura em que o PSD parece aproximar-se do Chega. Costa Matos defende que "a ameaça" de um bloco de direita, deve servir para a esquerda dialogar "com os valores socialistas em mente".
"O PSD está cada vez mais rendido à ideia de fazer um acordo com o Chega, mas também aos seus discursos. Hoje, o PSD quer tudo e o seu contrário", nota, dando o exemplo da "redução do défice e da dívida ao mesmo tempo que quer dar mais incentivos".
Questionado sobre as últimas sondagens, que colocam a direita com uma percentagem superior à esquerda nas intenções de voto, Miguel Costa Matos defende que deve haver "uma reflexão" entre os vários partidos, incluindo o PS, "que não pode sacudir a água do capote".
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O deputado socialista defende que a postura do BE e PCP, "que tentam criar uma alternativa por via da rotura", não trará "resultados diferentes aos das eleições legislativas", quando os partidos à esquerda perderam grande parte do eleitorado para o PS.
"A nossa visão é que ninguém é dono da razão e é importante dialogar. É preciso que o PS honre essa visão da sociedade e que honre também esse compromisso com os eleitores", atira.
Além das ambições políticas de Pedro Nuno Santos, que deseja ser secretário-geral do PS, e dos elogios da esquerda, Miguel Costa Matos garante que o caminho "continuará a ser feito com António Costa à cabeça", apesar de deixar elogios ao ministro das Infraestruturas e da Habitação.
"Pedro Nuno Santos, como dirigente político, contribuirá para um esforço que tem de ser de todo o partido. Tem dado provas da sua capacidade de concretizar, tirando do papel e colocando na prática", como na ferrovia.
Miguel Costa Matos defende que Pedro Nuno Santos "deve continuar nesse papel", como ministro e, no futuro, "quando for altura de falar da sucessão, falaremos".