Atuação "duvidosa". PS pede esclarecimentos à câmara de Lisboa e quer conhecer contrato
Socialistas querem conhecer o contrato assinado com a Fundação AIP relacionado com a utilização de um pavilhão da FIL para instalar um centro de vacinação contra a Covid-19.
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O PS na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) exigiu este sábado "esclarecimentos urgentes" sobre a atuação da câmara, presidida por Carlos Moedas (PSD), em duas situações que considera de "legalidade bastante duvidosa": segundo o partido, houve um ajuste direto que "envolve o pagamento a posteriori'" da utilização do pavilhão da FIL para funcionamento de um centro de vacinação à Covid-19 - cujo contrato o partido quer conhecer - e a utilização de "meios da autarquia para um jantar de âmbito partidário".
Em comunicado, o grupo municipal socialista acusa a câmara de revelar "uma atuação contrária aos princípios que vêm sendo anunciados pelo próprio presidente da autarquia".
"Além do mais, uma vez que está também em causa a utilização de recursos públicos, a sua utilização deve ser feita de acordo com as regras da contratação pública e também de acordo com a ética subjacente ao exercício de cargos públicos", lê-se na mesma nota.
O jornal Expresso noticiou na sexta-feira que o contrato entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação AIP é "ilegal", uma vez que, segundo as regras da contratação pública, o procedimento de ajuste direto não pode ser aplicado depois de prestado o serviço, sendo que este procedimento foi assinado "passados quatro meses sobre o encerramento dos trabalhos".
Em causa está um contrato, por ajuste direto, em que a autarquia adjudicou à Fundação AIP a "aquisição de serviços no âmbito do plano de vacinação contra a Covid-19", com o preço contratual de 418.489 euros, ao qual acresce o IVA à taxa normal de 23%, perfazendo um total de 514.741 euros, com um prazo de execução de 96 dias, de acordo com a informação publicada em 25 de julho deste ano no Portal Base.
No seu comunicado, o PS lembra que, aquando da inauguração do centro de vacinação, "o presidente da câmara anunciou que a cedência do mesmo seria gratuita".
PS quer conhecer contrato
Em resposta à Lusa na sexta-feira, a autarquia esclareceu que a disponibilidade da Fundação AIP para a instalação do centro de vacinação contra a Covid-19 nos pavilhões da FIL "incidiu sobre os custos da disponibilização do local (aluguer) e não sobre um conjunto de custos e serviços indiretos que são/foram imprescindíveis para a utilização do espaço", como consumos de água, eletricidade, serviços de segurança e limpeza, montagens e desmontagens, entre outros.
Para desonerar a Fundação AIP dos "custos indiretos" que suportou com o funcionamento do centro de vacinação, entre dezembro de 2021 e março deste ano, "foi promovido o referido procedimento de contratação pública que veio a ser considerado inadequado para a regularização desses custos", informou a CML.
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Em declarações à TSF, Manuel Portugal Lage, líder da bancada do PS na AML, argumenta que há uma "falta total de esclarecimento uma vez que nem o PS, nem os deputados municipais conhecem o contrato original".
Os socialistas pedem um "esclarecimento cabal do contrato estabelecido entre a câmara municipal e a AIP" e, embora não coloquem em causa os esclarecimentos prestados por Carlos Moedas, defendem que o melhor é que todas as partes "estejam na posse dos mesmos dados".
Jantar caiu mal
O PS na AML criticou ainda a organização de um jantar "com meios da autarquia" para Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade Autónoma de Madrid e uma das figuras do PP, em julho, e para o qual terão sido convidadas figuras da direita portuguesa.
Segundo escreveu hoje o Novo Semanário, os vereadores da oposição não tiveram conhecimento do evento. Citada pelo jornal, a autarquia assumiu que o evento "foi organizado pela CML, como acontece com tantas outras receções".
Sobre estes dois assuntos, o grupo municipal do PS anunciou a apresentação de um requerimento a solicitar explicações da câmara para duas matérias que considera de "legalidade bastante duvidosa". Manuel Portugal Lage nota, na TSF, que "não faz sentido, para o PS, a existência de jantares partidários feitos pela câmara municipal".
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"Não queremos crer que o senhor presidente da câmara, o engenheiro Carlos Moedas, tenha cometido um erro de palmatória deste género. Não temos a mínima dúvida de que se trata, certamente, de um mal-entendido", mas porque "não há fumo sem fogo", o PS quer esclarecer a questão.
"Não podemos viver nesta indefinição e situação de eventualmente haver dinheiros públicos gastos para fazer jantares partidários", assenta.
Os socialistas vão ainda pedir uma "reunião urgente" da Comissão de Direitos Humanos e Sociais, Cidadania e Transparência e Combate à Corrupção da AML, "no sentido de serem prestados os esclarecimentos necessários e serem ouvidos os intervenientes".