PSD acusa Governo de falhar no 'layoff' e alerta para "devaneios" no investimento
Deputados e dirigentes do PSD criticaram a resposta económica e sanitária do Governo à Covid-19.
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Na primeira conferência online organizada pelo Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, um órgão de aconselhamento da direção, muitas críticas foram dirigidas à resposta das autoridades na área da saúde, com o deputado e vice-presidente da bancada social-democrata Ricardo Baptista Leite a apontar "falta de planeamento" e a defender que foram os portugueses que "pressionaram" o Governo a adotar uma estratégia de confinamento.
O presidente do CEN e porta-voz do PSD para as Finanças Públicas, Joaquim Miranda Sarmento, apenas fez a introdução do debate, com o tema "Saúde e Economia: Que equilíbrio possível?", mas deixou a primeira crítica.
"Temos hoje a perfeita noção que, quer o regime de 'lay off' quer as linhas de crédito criadas pelo Governo, falharam em toda a linha no apoio às empresas e no apoio aos trabalhadores e às famílias", criticou, salientando que o PSD, através do CEN, já apresentou um primeiro conjunto de medidas e lançará um pacote global para recuperação da economia no final de maio ou início de junho.
Também Álvaro Almeida, deputado e coordenador no CEN para a área das Finanças Públicas, defendeu que "a capacidade de anúncios" do Governo se tem de traduzir "em capacidade de execução".
"Se isso for feito - e até agora não tem sido -, se o Governo for capaz de emendar a mão e fazer chegar às empresas portuguesas tudo o que prometeu e não entrar em devaneios sobre grandes investimentos públicos numa altura em que os esforços devem estar concentrados em as empresas que existem, teremos uma crise, é inevitável, mas poderá ser curta e passageira. Se não for capaz, o futuro económico será negro", vaticinou.
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Do lado da saúde, Ricardo Baptista Leite, médico, e que tem representado o PSD nas sessões regulares informativas sobre a Covid-19 com os epidemiologistas no Infarmed, criticou a atitude de Governo e das autoridades de saúde no início da pandemia, que classificou como "de negação".
"Foram os portugueses que, vendo o que se estava a passar em Espanha e Itália, tomaram a decisão de ficar em casa, tirar os filhos da escola e fechar as portas das suas empresas. Isto levou a uma pressão social que fez com que o Governo e o Presidente da República, com o estado emergência, acabassem por avançar com medidas, mas eu não tenho dúvidas de que essa intervenção precoce da população portuguesa foi determinante nesta primeira onda", afirmou.
Para o futuro, defendeu, o planeamento será também determinante, dizendo que "não haverá desculpas para o país não estar preparado para o próximo Inverno" e deixando um alerta para o que pode ser uma segunda onda de Covid-19 em simultâneo com uma "má época" de gripe.
"A maioria de países europeus aumentaram as suas requisições de vacinas de gripe - alguns fizeram pedidos 80% superiores ao normal - e, à data de hoje, Portugal ainda não fez uma encomenda de vacinas", disse, avisando que essa produção é limitada.
Baptista Leite atribuiu ainda à "falta de planeamento" a menor resposta do Serviços Nacional de Saúde (SNS) a outros problemas: "Diminuiu radicalmente o diagnóstico do número de cancros em Portugal nos últimos dois meses, não me venham dizer que a Covid cura o cancro", criticou.
"Não podemos voltar a ser apanhados de forma desprevenida (...) ficou mais do que claro que a atual Direção-Geral da Saúde não tem a mínima capacidade para este tipo de situação na forma como está estruturada hoje e que a Europa também não está capacitada para uma ação concertada", afirmou, defendendo uma lógica de "tipo NATO" para lidar com pandemias.
Baptista Leite saudou ainda que o Governo tenha determinado a utilização das máscaras obrigatórias não só nos transportes públicos, como disse que inicialmente pretendia, mas também nas lojas, seguindo uma proposta do PSD, e referiu até que o executivo já decidiu cancelar "tudo o que são eventos de massas até 31 de agosto".
"Até o presidente da Assembleia da República emitiu uma recomendação muito firme e convicta que todos temos de usar máscara em contexto parlamentar. A sociedade portuguesa evoluiu", notou.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 254 mil mortos e infetou quase 3,6 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Em Portugal, morreram 1.074 pessoas das 25.702 confirmadas como infetadas, e há 1.743 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.