Projeto Escolas à Descoberta de Abril (EDA) do Conselho Nacional de Educação começa a percorrer o país.
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As histórias contadas pelos alunos que passaram pela Escola Secundária Tomás Cabreira antes do 25 de Abril são muitas. Como as que lembram Zeca Afonso.
"Quando o Zeca Afonso foi professor nesta escola entrava aqui de uma forma pouco formal e tinha que se socorrer rapidamente de uma gravata para ir dar aulas", conta a professora Vitória Revez. Ela é uma das docentes envolvidas no projeto EDA- Escolas à Descoberta de Abril, lançado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril e associar-se às comemorações, o CNE desafiou as escolas a apresentarem projetos que permitissem manter viva a memória da revolução dos cravos.
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O presidente do CNE considera, por isso, que era importante ouvir a geração que tem atualmente mais de 65 anos e viveu esses tempos.
"É um facto que não podemos contornar, essa geração encaminha-se para o fim e temos aqui a possibilidade de ter um espólio muito significativo", refere Domingos Fernandes.
Todo o trabalho compilado pelas escolas ficará em arquivo num servidor do CNE, "para que as memórias não se percam", dirigido às pessoas que o queiram analisar ou estudar.
Domingos Fernandes considera que as escolas estão a efetuar trabalhos muito interessantes e dá o exemplo do Agrupamento de Escolas de Alvalade.
"Eles associaram os 50 anos [do 25 de Abril] ao desenvolvimento do bairro", conta. "Os alunos nem sequer sonhavam o que era a vida antes do 25 de Abril, nem sequer acreditam, e isso tem sido de um enriquecimento muito grande do ponto de vista cívico, cultural, político e para outro conjunto de competências", refere
Mas voltemos à Escola Secundária Tomás Cabreira onde Zeca Afonso foi professor, e por onde passaram também o político Cavaco Silva ou o jornalista e escritor Mário Zambujal.
Alunos e professores têm recolhido depoimentos de antigos estudantes contrapondo com os testemunhos de crianças que frequentam nesta altura o 4º ano de escolaridade. Para estes miúdos o 25 de Abril "foi a revolução contra Salazar", ou "o dia em que a liberdade começou".
João Emídio, aluno do 12º ano que trabalhou no projeto, ficou espantado com o conhecimento que crianças pequenas têm sobre o 25 de Abril.
"Nunca pensei que uma criança de 10 anos falasse sobre liberdade de expressão", admira-se
Laura Prado, estudante do 12º ano, tem colaborado igualmente no projeto e ouviu aqueles que frequentaram a escola antes da revolução.
"Através dos nossos entrevistados percebemos que a sua adolescência foi um pouco oprimida", lamenta
Dos diferentes depoimentos de antigos alunos, a professora Vitória Revez, que não viveu esses tempos, ficou a conhecer uma escola muito diferente daquela onde hoje dá aulas: um ensino onde rapazes, raparigas e professores entravam por portas distintas, e os docentes só podiam ser chamados de "senhor doutor".
A iniciativa Escolas à Descoberta de Abril irá prolongar-se durante 3 anos e pretende em cada ano letivo desafiar a fazer trabalhos 50 escolas de cada vez.
No auditório Municipal de Portimão vai realizar-se esta sexta feira o primeiro Encontro Regional do projeto, seguindo-se Coimbra, Lisboa, Bragança e por fim Portalegre.