Amnistia Internacional critica convite a João Lourenço para os 50 anos do 25 de Abril
Dirigente português Pedro Neto assinala a "repressão" que diz ser praticada pelo regime de João Lourenço de forma "indiscriminada".
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A delegação portuguesa da Amnistia Internacional vê com desagradado e aponta alguma "hipocrisia" ao convite feito por Portugal ao Presidente de Angola, João Lourenço, para estar presente nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Esta segunda-feira, numa conferência de imprensa com o chefe do Estado angolano, em Luanda, o primeiro-ministro António Costa revelou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda vai enviar convites aos chefes de Estado dos países africanos de expressão portuguesa para estarem presentes nas cerimónias.
Em declarações à TSF, Pedro Neto, responsável português da Amnistia Internacional, classifica o convite como "um insulto às pessoas que já perderam a vida à conta da repressão que acontece em Angola" no presente "e com este presidente".
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A esta avaliação, Neto junta um convite a António Costa para que "visite, por exemplo, Tanaice Neutro, que é um músico que está preso há mais tempo do que a pena suspensa a que foi condenado".
A Amnistia alerta para episódios em que "pessoas foram mortas em manifestações, mortas na rua pela violência policial e pela repressão", que assinala ser "indiscriminada" e praticada sobre "ativistas, opositores políticos, mas também a pessoas que estão na rua na hora errada e no momento errado".
Traçado o cenário, o convite deixado desde já por António Costa em Luanda está revestido de "hipocrisia, de assobiar para o lado ou de fazer de conta que a realidade é outra", algo que, diz Pedro Neto, "não é aceitável do nosso primeiro-ministro António Costa".
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As críticas são também estendidas à diplomacia portuguesa que, do conhecimento da Amnistia, não fala de direitos humanos ou, se fala, "ou acontece à porta fechada ou não tem acontecido por parte do primeiro-ministro".
"Felizmente, o Presidente da República tem tido frequentemente uma atitude diferente, mas a diplomacia portuguesa não fala de direitos humanos quando em cima da mesa está dinheiro", critica o responsável.
Os governos português e angolano assinaram esta segunda-feira 13 acordos bilaterais e o primeiro-ministro português convidou o Presidente angolano para estar presente nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, sustentando que a revolução portuguesa foi um passo que também representou a libertação de Angola.