"Querem ver-se livres dos pobres." Às portas de Belém, 50 moradores estão a receber ordem de despejo
A Câmara de Lisboa já tentou travar o despejo dos moradores, mas sem sucesso. Catarina Martins acusa a autarquia de não apresentar soluções.
Corpo do artigo
No Casal do Gil, em Lisboa, cerca de 50 pessoas estão a receber ordens de despejo, para que o proprietário possa construir outras habitações no local. As famílias não têm qualquer solução habitacional e acusam a autarquia de "silêncio" e de as deixar sem qualquer alternativa.
O bairro fica a poucos quilómetros do Palácio de Belém, mas Marcelo Rebelo de Sousa ainda não passou pelo local, apesar do desafio que já foi lançado pelos moradores. A angústia das famílias nota-se no rosto e reflete a falta de esperança de quem não sabe até quando vai ter um teto para morar.
"Não há respostas. Não há nada. Fizemos tudo o que nos pediram, inscrevemo-nos nas habitações sociais, nos programas. O tempo está a passar e a esgotar-se, e há ordens de despejo do juiz. Inclusive, há famílias que já saíram", revela Cláudia Batalha, uma das moradoras.
TSF\audio\2023\05\noticias\08\francisco_nascimento_casal_do_gil
Cláudia Batalha mora com o marido e com os filhos, e em conversa com a TSF lamenta que o proprietário dos terrenos, e a própria câmara municipal de Lisboa, não lhes dê qualquer alternativa.
"Todos vamos ter que sair, porque o objetivo é ficar com os terrenos desocupados. Provavelmente querem construir habitações de luxo", prevê.
A Câmara de Lisboa já tentou travar o despejo dos moradores, mas sem sucesso. O vice-presidente Filipe Anacoreta Correia revelou, em março, que o proprietário mostrou-se "irredutível", apesar da abertura da autarquia para a aquisição do edificado.
E, entretanto, as famílias sentem-se abandonadas: "Mostram-se muito preocupados, mas, na prática, não há respostas". Cláudia Batalha lamenta que "só exista silêncio" e garante que os moradores "não têm informações de nada".
Os deputados municipais visitaram o bairro no início do processo, entretanto, apenas o Bloco de Esquerda se manteve em contacto com os moradores, de acordo com Cláudia Batalha. A líder bloquista, Catarina Martins, atira responsabilidades para Carlos Moedas.
"As autarquias, principalmente a de Lisboa e a do Porto, estão a ficar cada vez mais agressivas em relação aos habitantes. Dá a ideia que se querem ver livres dos pobres, é a única maneira de explicar", acusa.
Aos moradores não sobram alternativas e a coordenadora do Bloco de Esquerda lamenta que o Estado deixe as famílias sem soluções, já que a habitação é um direito constitucional e "todos precisam de ter um teto".
"Que país é este que diz que a economia está a crescer? Que cidade é esta que diz que é o melhor destino do mundo. E, depois, deixam estas famílias que estão aqui a vida toda, e cumpriram com as suas obrigações, no olho da rua", lamenta.
A líder bloquista desafia o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a visitar os moradores e a pressionar Carlos Moedas a arranjar uma alternativa para as famílias.