Deixar Galamba no Governo "reforça" confiança dentro do PS, mas a médio prazo pode ter "efeito inverso"
A ex-ministra socialista Alexandra Leitão defende que para João Galamba, que tem ambições políticas, é um erro ficar no Governo.
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Alexandra Leitão considera que a decisão do primeiro-ministro, António Costa, de manter João Galamba no Governo, reforça a confiança dentro da equipa socialista, mas a médio prazo pode ter o efeito inverso. Na opinião da deputada, para João Galamba, que tem ambições políticas, é um erro ficar no Governo.
"Considero que o ministro não tem condições para continuar. A prazo, para ele politicamente, que é um jovem com ambições políticas, é pior ficar no Governo do que sair, mas cada um sabe da sua carreira. Agora gostava de me centrar nas consequências objetivas. A motivação do primeiro-ministro é dele, temos de a respeitar, concordemos ou não", defendeu Alexandra Leitão no programa o Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal.
A ex-ministra socialista antecipa ainda as consequências da decisão do primeiro-ministro.
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"Objetivamente vejo duas consequências. Uma consequência imediata, que é o primeiro-ministro recuperar ou reforçar alguma iniciativa política. Teve uma posição de liderança, assertividade, uma posição em grande parte também motivada por, algumas semanas antes, haver aquela repetição sobre a dissolução, que era uma coisa que já estava a ser um bocadinho exagerada. Houve aqui a intenção de, nessa medida, tomar uma posição de força até muito para dentro do partido, mas também para fora. Agora a médio prazo temo que tenha o efeito inverso, quer por termos uma comissão parlamentar de inquérito, que vai fazer correr muita água por baixo da ponte. O primeiro-ministro acorrentou-se, a si e ao Governo, à situação do ministro João Galamba, coisa que não precisava de ter feito", explicou a deputada.
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Já António Lobo Xavier classifica como teorias da conspiração as teses que defendem que António Costa queria levar Marcelo Rebelo de Sousa a dissolver o Parlamento para antecipar eleições.
"É absolutamente inaceitável a ideia que vejo por aí de que António Costa queria eleições e quis forçar eleições. O primeiro-ministro não queria eleições nenhumas e não há pessoa no país que saiba tão bem que o Presidente da República nunca dissolveria a Assembleia da República nestas circunstâncias. Esta conversa conspirativa não cola com nada. António Costa sabe que o Presidente não dissolve por estas causas e, portanto, não precisa de o encostar à parede, de o forçar e fazer um jogo. Em geral, os observadores olham para isto como uma conspiração, um jogo de parada-resposta, mostrando Costa como um jogador de poker, não olhando simplesmente para a situação como eu a vejo: o primeiro-ministro tomou uma péssima decisão", afirmou António Lobo Xavier.
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Já o historiador José Pacheco Pereira critica a insistência do Presidente em falar em dissolução do Parlamento.
"Não tem sentido nenhum. O Presidente da República tem o poder de dissolução, não tem de estar sempre a enunciá-lo mesmo que, na maioria das vezes, tenha falado da dissolução para a negar, a verdade é que acrescentava sempre que este é um poder que tem e do qual não prescinde. Quem é que lhe pediu para prescindir? Quem é que imagina que o Presidente da República iria prescindir de um direito? As conversas sistemáticas sobre a dissolução tem, evidentemente, um processo de chantagem sobre o primeiro-ministro. Além disso, o Presidente da República praticamente comenta tudo. Não sei como é que ele vai ser pior agora do que era antes porque vi-o sempre comentar tudo e fazer críticas implícitas ao Governo", acrescentou José Pacheco Pereira.
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