"Regiões cada vez com menos voz, é um ciclo vicioso." Oito distritos do interior deixam de receber jornais diariamente

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A distribuidora Vasp confirma à TSF que há oito distritos do país que vão deixar de ter distribuição diária de jornais e que está em aberto a possibilidade da distribuição passar a ser semanal. É uma informação que deixa "estupefacto" o autarca de Freixo de Espada à Cinta, concelho do distrito de Bragança, um dos abrangidos pela decisão
No pior dos cenários, de Beja a Bragança vão chegar jornais apenas uma vez por semana. Não serão os diários, mas a VASP sublinha que há semanários, edições de fim de semana, revistas e outras soluções para informar as populações dos oito distritos afetados.
A fonte da VASP com quem a TSF conversou explica que a falência da Trust in News, dona da Visão, e a quebra cada vez maior nas vendas agravaram uma situação financeira que já é problemática há muito. Há dois anos que apenas na Grande Lisboa e no Grande Porto aquilo que se vende compensa os custos da distribuição.
As mudanças na entrega dos jornais diários, que começam a 2 de janeiro, vão atingir concelhos abrangidos por um protocolo que entrou em vigor em janeiro de 2025. Esse protocolo incluía Freixo de Espada à Cinta, Vimioso, Marvão e Alcoutim.
Nos casos de Marvão e Vimioso, a VASP garante que o protocolo não avançou. Em Alcoutim, no interior do Algarve, continuará a haver jornais todos os dias, porque ainda se vende alguma coisa e o Estado compensa a distância entre Castro Marim e aquele concelho.
De resto, a fonte contactada pela TSF garante que está em contacto permanente com o Governo para tentar resolver o problema da distribuição de jornais em Portugal. Há também conversas com as empresas donas dos jornais diários em busca de soluções para manter o país informado.
Em outubro do ano passado, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, anunciou que estava acordado com a distribuidora Vasp um protocolo para garantir de forma temporária a distribuição de jornais em concelhos como Vimioso, Freixo de Espada à Cinta e Marvão, que assim passariam a ter pontos de venda. O protocolo entrou em vigor em janeiro e, desde essa altura, a Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, concelho do distrito de Bragança abrangido por este protocolo, garante que já pagou à Vasp mais de 12.300 euros.
O autarca Nuno Ferreira recebe agora com espanto a notícia, avançada pela TSF, de que a distribuição diária dos jornais vai deixar de ser feita.
"É com estupefação e alguma surpresa que somos informados sobre essa intenção da VASP. Nós não recebemos nenhuma informação sobre isso", reagiu.
Nuno Ferreira assegura que a câmara sempre respeitou o protocolo e que, "ao contrário do que foi vinculado pelo Governo de que seria a título gratuito", o município tem sempre despendido uma verba, ou seja, "a pagar à Vasp" para não "falhar" e dar informação" aos munícipes.
Perante a notícia, o autarca garante que vai pedir esclarecimentos à distribuidora e se o concelho deixar mesmo de receber jornais, irá questionar o Governo.
"Regiões cada vez com menos voz, é um ciclo vicioso"
Também o presidente do círculo de estudos do centralismo, Carlos Tavares, mostrou-se preocupado com esta notícia, considerando que, "por força da lei eleitoral, cada vez mais estas regiões têm menos peso no poder central".
"É um ciclo vicioso também. As regiões têm cada vez menos voz e menos atenção também por parte dos políticos", disse.
"O próprio Estado foi dando o exemplo, retirando o acesso a uma parte substancial das populações a alguns serviços essenciais de saúde e educação. Estamos perante uma situação em que cerca de 70% do país é sistematicamente posto em segundo lugar quando se trata de prioridades", acrescentou.
Para Carlos Tavares, a limitação agora imposta na imprensa é "só mais um fator de desigualdade".
