Registadas 77 queixas desde janeiro: APAV alerta para "normalização" do bullying e "culpabilização" da vítima
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima sublinha que a maioria das vítimas não pede ajuda, em parte, por receio das consequências. Apesar dos números "bastante significativos", os adultos tendem a "banalizar" a humilhação e as ofensas que as vítimas sofrem
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A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) recebe, em média, oito vítimas de bullying por mês. Entre janeiro e setembro deste ano, a APAV registou 77 casos, sendo que, destes, 17 estão relacionados com cyberbullying. Em declarações à TSF, Patrícia Ferreira, da APAV, admite, no entanto, que os números não representam a realidade, já que "a esmagadora maioria das pessoas que são vítimas deste tipo de violência não pede ajuda".
A responsável explica que muitos jovens continuam a preferir ficar em silêncio, porque "têm receio daquilo que possam ser as consequências associadas a esta situação, nomeadamente deixarem de poder ter acesso ao contexto digital".
A gestora do Gabinete de Apoio à Vítima do Cadaval destaca que os números registados "já são bastante significativos". A APAV "tem uma resposta ao nível jurídico, social, de apoio emocional e psicológico para oferecer a estas vítimas", garante Patrícia Ferreira, acrescentando que, em grande parte dos casos, é também feito um "trabalho em articulação com a escola, no sentido de sensibilizar e de olhar para este problema como algo complexo, que acarreta inúmeras consequências para a vítima".
Patrícia Ferreira sublinha que, parte do problema, advém também do facto de muitos adultos ainda desvalorizarem os casos de bullying. "A banalização que, muitas vezes, se atribui a estes atos de humilhar, ofender, que têm inúmeras consequências, e que muitas vezes os outros que os rodeiam não olham dessa forma... há até uma culpabilização na própria pessoa que sofre, porque é mais tímida, porque é mais reservada, porque não gosta de entrar nas brincadeiras. Não podemos olhar a vítima como alguém que pode ter culpa de qualquer tipo de violência que possa estar a sofrer", destaca.
A APAV recebe vítimas de todas as idades, "desde a fase da primeira infância até aos 18 anos", mas a maior percentagem de vítimas tem entre os 11 e os 17 anos. Os dados revelados pela APAV mostram ainda que a violência verbal é a mais comum. "Excluir, espalhar rumores, chamar nomes, gritar, gozar ou fazer comentários negativos" representam cerca de 70% das situações. A violência física tem uma expressão de 40%.