Regresso ao passado: no tempo em que a canastra de sardinha custava 15 tostões
Portimão recria chegada de traineira para abrir apetite para Festival da Sardinha.
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O Festival da Sardinha de Portimão começa esta quarta-feira, mas para abrir o apetite para a iniciativa, a cidade recriou esta terça-feira toda a azáfama que se desenrolava antigamente à volta da chegada de uma traineira. Participaram cerca de meia centena de figurantes que vestiram a pele dos pescadores, dos estivadores, compradores, mulheres da salga e crianças que cirandavam pelo local, dando mergulhos do cais e roubando o peixe.
Assim que a traineira Arrifana chegou ao cais, começou a azáfama da descarga do peixe. "Chamam-se os compradores ao cais para ver a qualidade do peixe", anunciava o homem da lota. Depois da descarga, a venda faz-se logo ali ao pé da traineira, com os compradores a disputarem a totalidade do pescado e termina com o habitual o chui, o sinal dado quando o peixe era arrematado." Está vendido, 400 quilos de sardinha para o mestre Antunes", gritou o homem da lota.
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A recriação da chegada da sardinha, da sua venda e de toda a atividade que a rodeava foi encenada no cais antigo de Portimão." Isto foi um trabalho feito pela comunidade e é uma recriação das memórias que as pessoas contam", refere a antropóloga Ana Patrícia Ramos. Memórias que a cidade quer fazer perdurar no tempo, para que as novas gerações não as esqueçam.
Em toda esta azáfama não podiam faltar as salgadeiras de peixe. Uma das personagens, vestida à antiga e com um chapéu de palha na cabeça, explica que o peixe está a ser salgado para ir para Sabóia, Alentejo. "Eles lá não têm peixe, tem que ir aqui de Portimão e a sardinha está boa, gorda", garante.
Na cidade há ainda gente que trabalhou nos barcos de sardinha e na pesca do cerco à antiga.
Sentado num banco de jardim, o Sr. Isaac observa tudo de longe e lembra-se de ter feito descarga de muitas canastras do peixe das traineiras de sardinha. Recorda-se igualmente das dificuldades por que passavam os homens do mar. "Punham-se em cuecas, dentro do gelo e a descarregar as canastras, porque nessa altura não havia botas de borracha!", lembra. "Era o tempo da escravidão", lamenta.