As salinas e a extração do sal estão, grão a grão, a recuperar de uma morte anunciada. "Ouro branco" é uma reportagem de Miguel Midões e Joaquim Dias, para ouvir hoje, depois das 20h00.
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Já foram milhares as marinhas que povoaram o território nacional, mas hoje, em todo o país existirão pouco mais de uma centena. A maior concentração está na Figueira da Foz, onde ainda existem 42 marinhas ativas.
A maior parte dos jovens foge do trabalho duro de ser marnoto, mas, a conta-gotas, vão surgindo ideias inovadores para o sal e para o salgado, que dão uma nova vida ao negócio do "ouro branco".
Gilda Saraiva é marnoteira na marinha do Corredor da Cobra, no salgado da Figueira da Foz. Explica porque, como jovem, se voltou para o negócio do sal. "Já vinha de família. De pequenina que via esta magia. Primeiro não vimos nada da água e depois aparece o cristal, que parece um diamante. Isto é o ouro branco", diz. Gilda terminou os estudos em arquitetura, mas foi a arte das salinas que o que a cativou.
A salicultura já foi uma das principais atividades económicas do país
O gelo e o frigorífico substituíram o sal, que foi perdendo valor no mercado.
Hoje, nas salinas, vão ficando aqueles que lhe dedicaram uma vida, como António Romão, de 80 anos. "Dá para mim, porque tenho a reformazita que o Estado me dá. Mas, um rapaz novo tem de aprender e depois anda aqui a trabalhar cinco meses sem saber se ganha ou não ganha. E no inverno quem o sustenta. Conforme os da minha idade vai desistindo elas vão ficando" ao abandono.
Mas, a marnoteira Gilda tem a mensagem certa para os mais jovens: "podem vir porque, apesar de duro e físico, têm o ginásio que não precisam de pagar por ele, e têm o SPA. Quando estamos a rer fazemos a esfoliação e o peeling à pele. Sem falar neste bronze que é muito mais duradouro do que qualquer praia".
E com o regresso ao sal têm surgido novos negócios e novos mercados. Afonso Miranda, da Cale do Oiro, em Aveiro, explica o fundamento da reativação da marinha Gran Caravela. "Infelizmente já não é o que era. Em Aveiro existiam mais de 200 marinhas a trabalhar o "Ouro Branco" e sempre existiram marnotos a trabalhar o salgado".
Em Aveiro, relaxa-se num SPA salínico e na Figueira da Foz vai-se ao pedário colocar os pés no sal, formas modernas de voltar a olhar para o sal e de o transformar, de novo, numa atividade económica rentável.
"Ouro branco" é uma reportagem de Miguel Midões, com sonoplastia de Joaquim Dias, para ouvir hoje, depois das 20h00.