"Reestruturar não é encerrar." Fecho de urgências pediátricas em Lisboa "é grave" e "inadmissível"
Roque da Cunha, presidente do Sindicato Independente dos Médicos, apela ao Governo que "crie as condições para que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde".
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O presidente do Sindicato Independente dos Médicos afirma que, a confirmar-se o plano de encerramento de oito urgências pediátricas durante a noite, aos fins de semana e feriados, em Lisboa, o caso é ainda pior do que se esperava. Classificando-a como grave e inadmissível, Roque da Cunha considera que esta é uma não solução, em que os privados vão continuar a lucrar.
"Os piores receios que tínhamos, infelizmente, foram ultrapassados, porque, mais uma vez, dizemos que reestruturar não é encerrar. Estamos a falar de crianças que estão altamente fragilizadas, crianças não só da região, porque quer o hospital D. Estefânia, quer o hospital de Santa Maria recebem doentes que vêm um pouco de todo o país, já em situações muito graves, transferidas dos hospitais do sul do país, e é grave, porque estão abaixo dos mínimos. Quem vai continuar a ganhar com isto, alimentado por este Governo, são os serviços privados. Isso é inadmissível", defende, em declarações à TSF.
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Jorge Roque da Cunha deixa um apelo ao Governo: "Vamos esperar que o Governo reverta esta situação e, por isso, é cada vez mais premente que o Governo, no processo negocial que encetámos até dia 30 de junho, crie as condições para que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde e que não faça aquilo que está a fazer, que é fazer ainda mais pressão para que os médicos ainda saiam do Serviço Nacional de Saúde."
Situação "preocupante". FNAM pede que Governo pare "esta sangria de médicos"
Também ouvida pela TSF, Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM, considera que esta é uma situação "preocupante" e que pode colocar em risco o acesso aos cuidados de saúde por parte das crianças e jovens.
"Acima de tudo é deixar preocupada a população de crianças e adolescentes que podem ter o acesso aos seus cuidados urgentes em risco. Além disso, prevê que possa haver uma migração laboral dos médicos, que é uma figura totalmente desconhecida sobre o nosso trabalho. Por outro lado, falam que iam ouvir todos os intervenientes. Sendo esta uma matéria laboral, os sindicatos têm que ser ouvidos e até agora a Federação Nacional dos Médicos ainda não chegou nenhum pedido para reunião", adianta.
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Joana Bordalo e Sá deixa um recado ao Governo, pedindo que o executivo assuma uma atitude proativa: "O Governo tem que perceber - e sabe muito bem - o que é preciso para parar esta sangria de médicos e para fazer com que os médicos não saiam e regressem ao SNS. Deixe a passividade e resolva o problema dos médicos e dos restantes profissionais do SNS. Sem isso não vamos conseguir fixar médicos no SNS e vão continuar a sair todos para o setor privado e para emigração e isto é dramático."
A região de Lisboa deve ficar sem oito urgências pediátricas durante a noite, aos fins de semana e feriados. O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo, já tinha anunciado que o plano vai ser revelado na próxima semana. O semanário Expresso adianta que, das 12 urgências pediátricas na Grande Lisboa, apenas quatro deverão funcionar sem constrangimentos.
Santa Maria, Dona Estefânia, Amadora-Sintra e Garcia de Orta: são estes os quatro hospitais onde as urgências pediátricas vão continuar abertas 24 horas por dia. Os outros oito hospitais que têm urgências pediátricas na região da Grande Lisboa devem fechar durante a noite, aos fins de semana e feriados. O jornal Expresso adianta que, ao contrário do que acontece com o plano para as urgências de ginecologia e obstetrícia, o encerramento não é rotativo, mas sim definitivo.
Contactada pela TSF, a direção executiva do SNS adianta que, ainda esta manhã, será emitido um comunicado sobre a reorganização das urgências pediátricas na região de Lisboa. Será também esta manhã que o diretor executivo Fernando Araújo vai reunir-se com os chefes de urgência do hospital Beatriz Ângelo. A unidade em Loures já não tem urgência pediátrica desde a passada quarta-feira.
Na próxima semana, a direção executiva do SNS tem reunião marcada para discutir a reestruturação das urgências gerais, que pode incluir mexidas noutras especialidades.
* Notícia atualizada às 09h18