Ricardo Gonçalves, ex-deputado e membro da comissão política do PS, manifestou-se hoje contra quaisquer alianças à esquerda, e defendeu que, se preciso for, os socialistas devem coligar-se até com o CDS.
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Numa das intervenções mais exaltadas perante o XIX Congresso do PS, que decorre até domingo em Santa Maria da Feira (Aveiro), Ricardo Gonçalves sublinhou que o partido deve pedir a maioria absoluta mas, se não o conseguir, não pode voltar a cometer «o erro de 2009 de fazer um governo minoritário que foi uma irresponsabilidade política».
«Se preciso for amanhã fazemos um acordo, inclusive com o CDS. Ontem [sexta-feira] o CDS quase rompeu o governo de coligação à direita e só o CDS é que pode rebentar com o Governo porque o Cavaco não o faz e a 'troika' também não», defendeu, numa alusão às notícias que dão contas de divisões no Governo no último Conselho de Ministros.
No final da sua intervenção, em que disse que «andar com frentes de esquerda é andar para trás e deixar que a direita se perpetue no poder», a presidente do PS, Maria de Belém, pediu calma a Ricardo Gonçalves.
«Temos que ter cuidado que não temos cá o INEM», afirmou, em tom divertido, Maria de Belém, acrescentando depois, já com o microfone desligado, mas audível, «ainda lhe dá um ataque».
Ricardo Gonçalves manifestou também a sua discordância com posições já expressas no Congresso sobre a necessidade de renegociação do memorando, dizendo que se for o devedor a impor algo ao credor isso será "atirar o povo português como carne para canhão e entrar no campo do experimentalismo".
Antes de Ricardo Gonçalves falou o deputado João Galamba, que defendeu precisamente a tese da renegociação do memorando.
«Hoje a renegociação do memorando tornou-se uma urgência nacional, não é feita por desmazelo, mas em nome dos nossos compromissos com os portugueses», disse, acrescentando que «a luta entre credores e devedores deve ser travada pela sobrevivência do projeto social europeu e do Estado social».
Perante o Congresso, falou também o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, que, além de ter protagonizado um dos gritos mais entusiastas de «viva o PS!» (três vezes repetido) também aludiu ao discurso do Presidente da República nas comemorações do 25 de Abril.
Sem dizer o nome de Cavaco Silva, Vasco Cordeiro diz que se assistiu nesse dia «a um discurso que o PS não merece e o país não precisa».