Ruas viram mar em Faro. Lojistas e moradores de balde na mão criticam empresa de saneamento: "Já havia alerta há quatro dias"
Em Faro, o pior já passou, mas a chuva forte que caiu entre as 06h00 e as 07h30 provocou várias inundações na via pública e em algumas casas e lojas, sobretudo na zona baixa da cidade
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Na Rua Manuel Belmarço, uma via pedonal, Sílvia Martins anda de calças arregaçadas até ao joelho e de chinelos. Quando chegou à sua loja, a rua parecia um mar e só assim conseguiu abrir caminho sem molhar roupa e sapatos. Anda a retirar a água que entrou pelo edifício adentro e chegou até ao armazém. Faz as contas aos estragos.
"Roupa com água, sapatilhas, móveis...", enumera. "Nos manequins colocados na montra veem-se as marcas da água que chegam até às canelas dos bonecos." Sílvia lembra que, nos 25 anos que gere a loja, esta é a terceira vez que entra água, "mas agora foi pior".
No entanto, quem mora ou é proprietário de lojas na baixa de Faro tem vivido ao longo dos anos estas inundações. Sempre que chove um pouco mais, água e lama entra-lhes pela casa adentro. "Não vê além, tudo preto?", aponta uma moradora. Os degraus de casa têm lama e a terra e as flores foram arrancadas dos canteiros com a força da água. Do outro lado da rua situa-se o Consulado do Brasil, que ficou também inundado no piso mais baixo. Por isso, na porta, colocaram um aviso a alertar que o atendimento ao público está encerrado durante todo o dia.

Ali perto, a loja de produtos esotéricos de Angélica também não escapou à força da chuva. "A água ocupou todas as salas, havia caixas de velas com cinco quilos a boiar", conta. O pior, esclarece, foram os camiões que passavam. Com a chuva que já era muita, no asfalto, "faziam ondas", levando a água para dentro das casas.
Num café lá perto, também na baixa de Faro, Tiago anda com baldes a tirar para a rua toda a água que pode. "Agora estou a ver se tiro este lodo todo, para ver se consigo abrir o café", diz. "Quando aqui cheguei às 07h30, a água naquela rua chegava por aqui, pelo joelho", relata.
Sílvia lembra que, anteriormente, na sua rua, quando a meteorologia previa chuva intensa, os moradores conseguiam levantar a tampa das sarjetas para a água escoar. Mas isso era antes. "Agora temos umas sarjetas que são mesmo fixas, porque são de metal e já houve roubos", explica. Conta que, no dia anterior, a Proteção Civil foi ao local e alertou a empresa responsável pelas águas e saneamento da cidade, a FAGAR, para a necessidade de limpar essas infraestruturas.
No entanto, o dia passou e nada aconteceu. "Já andam a dar o alerta [para o temporal] há cerca de quatro/cinco dias, por isso os serviços da FAGAR deviam incidir sobre todas as zonas criticas", censura.