Rui Rio, o homem "sem arrependimentos" que não desiste de ser primeiro-ministro
Rui Rio "deixou de lado" a campanha interna porque diz estar focado no país e nas legislativas de janeiro. Mas, para combater António Costa, o atual presidente do PSD terá de vencer Paulo Rangel na terceira vez que disputa eleições no partido. Estarão os militantes com ele mais uma vez?
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"Arrependimento no trajeto de vida? Não tenho, para ser sincero..." Estávamos em plena campanha para as legislativas de 2019 quando um jovem social-democrata questionou se Rui Rio se arrependia de alguma coisa na vida, tendo o líder do PSD sido taxativo. Se, desde então, algo mudou no íntimo de Rio, não sabemos, mas tudo indica que politicamente nada mudou: quer continuar presidente do PSD, mantém-se fiel ao seu estilo de oposição e acredita estar nas melhores condições para discutir as legislativas com o PS de António Costa.
Com 64 anos, seja qual for o resultado das internas, Rui Rio já fica na história do PSD como o líder do partido com mais tempo de oposição ao governo, mas a ambição não fica por aqui. Quando tomou a decisão de se recandidatar, deixou claro que "tinha a obrigação" de ir à luta uma vez mais, tentando beneficiar daquela que ele e a sua equipa veem como inversão de tendência do ciclo político no país e, em última instância, tentar formar governo apostado no desgaste do primeiro-ministro.
Defendendo a conquista do "centro" político, Rui Rio chegou à cadeira de presidente do PSD em janeiro de 2018 vencendo Santana Lopes, conseguindo a reeleição em 2020 contra Luís Montenegro. Se nas últimas internas muitos não acreditavam que vencesse (ganhou na segunda volta com 53% dos votos), agora acontece o mesmo e o próprio Rio o admitiu, na TSF, ao dizer que sabe "como é que as coisas estão" e que "o adversário tem mais aparelho partidário" do que ele.
Será isso uma sentença à partida? Nem por sombras: Rio acredita que, "na vontade dos militantes que são quem vota", é ele quem está por cima. A ajudar a isso, o facto de estar "picado". "Costumam dizer quando me picam eu vou melhor. E eu estou picado", gracejou Rui Rio na apresentação da candidatura.
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Mas se "picado" estava na apresentação da candidatura, muito se passou desde então, a começar pelo chumbo do Orçamento do Estado que concretizou a já antecipada crise política, passando por uma discussão provocada na praça pública sobre adiar as eleições internas para depois das legislativas. Tal não aconteceu, contra sua vontade, e Rio decidiu deixar a campanha interna de lado porque o foco dele "está no país".
"Estamos a dar uma enorme vantagem ao PS que pode fazer desde já a sua campanha junto dos portugueses, enquanto o PSD se guerreia internamente. O mandato da atual direção só termina em fevereiro e, enquanto presidente do PSD, compete-me prioritariamente preparar o partido para as eleições nacionais e não para a disputa interna", disse Rio numa conferência de imprensa que marcou exclusivamente para este efeito.
Mas tem isso impedido o líder do PSD de ataques ao adversário? Nem por isso. Em discursos, não usa o nome do adversário, mas vai-se defendo das críticas frequentemente feitas contra o seu estilo de oposição "frouxo" ou "quase silencioso". "Andar aqui aos gritos a dizer mal dos outros não me parece que seja receita para se ser um bom primeiro-ministro", reiterou ainda este fim de semana na mesma altura em que, no Twitter, utilizou um vídeo de Paulo Rangel para uma farpa, insinuando que o adversário arranjará "jobs for the boys".
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Se não contarmos isto como campanha eleitoral oficial, o único momento que Rio tem e que pode ser assim apelidado é na Madeira, esta segunda e terça-feira, com encontros com militantes. Afinal, o arquipélago pode ser decisivo na hora da contagem dos votos com 2721 militantes com capacidade para ir às urnas, só ficando atrás de Porto, Braga, Lisboa e Aveiro.
Além disso, o líder social-democrata tem-se desdobrado em entrevistas onde vai deixando claro o seu plano para o país com a economia no topo das prioridades e com a abertura para diálogos em nome do "interesse nacional". De resto, essa tem sido uma das expressões mais utilizadas pelo presidente do PSD ao longo dos últimos anos para justificar, não só o seu estilo de oposição, mas também a abertura que demonstra para conversar com outras forças políticas no futuro, seja à esquerda, seja à direita, como diz na sua moção de estratégia global.
Muito crítico de sondagens, não deixa de sorrir ao ver que os estudos publicados na comunicação social lhe têm dado vantagem sobre Rangel, mas como até ao lavar dos cestos é vindima, a tensão vai durar pelo menos até à madrugada do próximo domingo quando os votos estiverem todos contados. Uma coisa é certa: este é o derradeiro combate de Rui Rio dentro do partido, só ninguém sabe com que marcas sairá dele.