Há muito, "desde a reconstrução pós-terramoto de 1755", que Lisboa não via uma obra assim. Decorreu neste tom a cerimónia da bênção de duas imagens de Santa Bárbara que hão de acompanhar a tuneladora e os trabalhadores que vão escavar a cidade até ao rio para acabar com as cheias catastróficas.
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O Plano Geral de Drenagem de Lisboa demorou tantos anos a tornar-se realidade que ainda parece mentira. Mas não é. A prova é a gigantesca roda dentada que vai roendo betão e cuspindo aparas de cimento até abrir o caminho de um rio que há de levar as águas de todas as chuvas até ao Tejo.
A partir de agora, Santa Bárbara, padroeira dos mineiros, tem nova missão: zelar pela segurança de todos os que guiam e seguem a H2O, como foi batizada a tuneladora que vai fazer o primeiro túnel entre Monsanto e Santa Apolónia numa extensão de cinco quilómetros.
Não há nada parecido na Europa "a preparar uma cidade para as alterações climáticas", não se cansa de repetir o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, ao mesmo tempo que lembra que foi dali que nasceu, das obras: foi engenheiro muito antes de ser político.
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Carlos Moedas não poupa nos autoelogios ao destacar "a coragem de quem toma decisões desta monta". Se calhar "se não fosse engenheiro, assustava-me", confessou até.
Dentro de dois anos, mais coisa menos coisa - "que neste tipo de obras não se podem arriscar datas", admite o dono da empreitada -, talvez São Pedro decida testar Santa Bárbara.
No coração do estaleiro foi montado um altar rústico com duas imagens de Santa Bárbara, que é dia dela, e um Cristo na cruz, ao meio.
"Uma vai andar em cima da tuneladora, a outra vai lá para baixo", explica à TSF Maria das Neves, que assiste a toda a cerimónia de bênção das imagens de mãos postas, e a acertar em todas as deixas da oração.
O "paninho bordado e a cruz" são seus, "que a Câmara não tinha".
O túnel entre Monsanto e Santa Apolónia tem cinco quilómetros de comprimento e vai ser feito a uma profundidade de 70 metros, prevendo-se que esteja pronto no final de 2025. O plano de drenagem inclui ainda a construção de um outro túnel entre Chelas e o Beato.