Santa Maria admite "constrangimentos" com cirurgia na urgência garantida apenas até 15 de outubro
O diretor clínico do Hospital de Santa Maria ressalva que "a vida dos utentes está acima de tudo", destacando que as dificuldades são particularmente sentidas nesta especialidade, ao passo que nas outras há médicos que se oferecerem para compensar com mais horas extra.
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No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, metade dos médicos do serviço de cirurgia recusam-se a fazer horas extra para além das 150 previstas na lei. Rui Tato Marinho, o diretor clínico, admite constrangimentos e adianta que as escalas nesta especialidade estão garantidas apenas até 15 de outubro.
"O único serviço que neste momento tem dimensão é o serviço de cirurgia, onde cerca de metade dos especialistas se recusam a fazer mais horas extraordinárias e todos os internos - que são os médicos que estão a tirar a especialidade - não querem fazer mais do que o horário de rotina de urgência que são 12 horas por semana", afirma, em declarações à TSF, explicando ainda que "noutros serviços, mais três ou quatro, há dois ou três médicos que terão metido esse papel de escusa às horas extraordinárias".
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Rui Tato Marinho sublinha, no entanto, que "até agora, felizmente," os constrangimentos no Santa Maria não atingiram a mesma "dimensão de outros hospitais" de vários "pontos do país", salientando, ainda assim, que não é possível prever "o dia de amanhã".
Para esta quarta-feira está marcada uma reunião entre a administração e o serviço de cirurgia, mas Rui Tato Marinho assegura que as escalas até dia 15 de outubro estão garantidas graças a outros médicos que vão fazer mais horas extraordinárias.
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"A vida dos nossos utentes está acima de tudo, por isso que é posso dizer que aqui, o Hospital de Santa Maria, tem excelentes profissionais e a grande maioria não meteu [a escusa], apenas uma especialidade meteu esse documento, mas tenho confiança. Podemos ter todos, apesar de termos posições diferentes, mas não chamaria uma questão de bom senso, mas negocial", explica.
O diretor clínico espera, por isso, que os médicos e o Governo cheguem a um entendimento e garante que ninguém quer colocar a vida humana em risco.
"Aguardo com a expectativa de que seja possível uma negociação com sinais positivos, é o que nós esperamos aqui no terreno, mas isso ultrapassa-nos. Ninguém quer prejudicar - os médicos e enfermeiros têm essa missão humanitária - a população, que não tem culpa de a política económico-financeira não conseguir negociar com os profissionais de saúde, nomeadamente com os médicos", ressalva.
Ainda assim, Rui Tato Marinho admite dificuldades no serviço de urgências durante o mês de outubro.
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"Vamos ter dificuldade se não se tomarem outras medidas em fazer as escalas de urgência durante o mês de outubro. Há uns pequenos constrangimentos para a semana, em que não teremos tantos médicos como poderíamos ter, mas não sei. Amanhã vamos ter uma reunião onde poderemos resolver esta situação a contento de todos, mas estão asseguradas as escalas até dia 15 de outubro", garante.
O diretor clínico do Hospital Santa Maria compreende a posição dos médicos, não faz julgamentos, e assegura que não há apelos, nem retaliações, em relação aos médicos que se recusam a fazer horas extra além das 150 horas previstas na lei.