"Se o projeto Apoio à Vida Independente acabar, é como cortar as asas a quem já aprendeu a voar"
Os 35 Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI) existem como projeto-piloto desde 2019. A medida dura até finais de junho, mas a secretária de Estado da Inclusão garante o programa vai continuar e passar de provisório a definitivo.
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Karina Kaupe desloca-se numa cadeira de rodas elétrica. Tem paralisia cerebral, os membros inferiores atrofiados e um grau de dependência elevado. A partir de maio de 2019 começou a ser apoiada pelo projeto dos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI), criados no seio do Instituto Nacional para a Reabilitação. O projeto permite que a pessoa com um grau de deficiência ou incapacidade igual ou superior a 60% possa ser apoiada por uma assistente pessoal. E foi o que aconteceu a esta jovem de 25 anos.
"Melhorou a minha qualidade de vida, pois conferiu-me mais independência, oportunidade de fazer aquilo que quero fazer, no tempo que quero, sem depender de familiares ou amigos", afirma Karina.
Rita Silva, mulher mais velha, de nacionalidade brasileira, é a assistente de Karina. Entre as duas, é visível a cumplicidade e amizade na relação. "Eu sou meio cúmplice de Karina", afirma com sotaque cantado.
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"Eu sou o braço esquerdo dela, juntas fazemos um corpo perfeito", diz a rir. Karina não consegue utilizar a mão esquerda. A jovem, é apoiada pelo Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI) gerido pela delegação de Faro da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, um dos 35 centros existentes no País.
Com 25 anos, Karina completou há pouco tempo o mestrado em psicologia clínica. No último ano, foi Rita quem a transportou diariamente de Tavira, a cidade onde mora, até à universidade em Faro. Auxiliou-a em pesquisas e, diariamente, ajuda-a em tantas outras tarefas.
"Ajuda-me na preparação da refeições, se eu quiser ter um encontro de lazer, ir a um concerto, ou por exemplo a uma entrevista de trabalho", explica a jovem.
Rita, que no Brasil trabalhou como advogada, considera que ajudar Karina traz-lhe muita gratificação pessoal. "Esse projeto trouxe a consciencialização de que as pessoas com deficiência existem, que são como todos nós e precisam de apoio como todos precisamos, porque limitações todos temos", sublinha
Para a mãe de Karina, que trabalha no setor do turismo, onde os horários são longos e não há fins de semana ou feriados, o projeto dos CAVI trouxe um alívio na sobrecarga familiar. Georgete Kaupe agradece todos os dias esta ajuda. "Tenho uma vida mais relaxada e posso trabalhar mais tranquila", assegura.
A meio do projeto, que já apoiou mais de mil destinatários e tem mais de 700 assistentes pessoais contratados, o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa foi chamado a fazer uma avaliação.
Luís Capucha, que dirigiu o estudo, chegou à conclusão que o grau de satisfação dos envolvidos é elevado. " As pessoas já não se imaginam a viver sem esta medida", garante." Os próprios cuidadores familiares também se viram libertos para, por exemplo, voltarem à educação ou ao mercado de trabalho". E para as pessoas deficientes, voltou a ser possível "coisas como irem ao café ou conviverem com amigos".
O Movimento de Apoio à Vida Independente existe desde 2019 mas ainda é desconhecido por grande parte das pessoas que dele podem beneficiar. Financiado por fundos europeus, a medida dura até finais de junho. No entanto, a secretária de Estado da Inclusão garante que o programa vai continuar, e passar de provisório a definitivo.
"Os projetos-piloto foram muito importantes durante a sua vigência, para nos darem informação, mas agora queremos que passem a definitivos", afirma Ana Sofia Antunes.
Karina já não imagina a vida sem o apoio da sua assistente pessoal. "Eu não quero que o projeto acabe e, se acabar, é como cortar as asas a quem já aprendeu a voar", diz num lamento.