Sem telemóveis, "os alunos concentram-se mais, comunicam mais, têm mais amigos... reais"
A Escola Básica 2/3 António Alves Amorim foi a primeira, na rede pública de ensino, a abolir o uso de telemóvel dentro do recinto. Para compensar os alunos, a escola oferece alternativas para ocupar o tempo livre nos intervalos.
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A brincadeira não tem limite, apenas uma condição. O regulamento interno é claro. "Os alunos podem trazer o telemóvel, mas o professor que tem a primeira aula recolhe os telemóveis e o último professor a ter aulas com a turma devolve-os."
Mónica Almeida é diretora da Escola Básica 2/3 de Lourosa. A primeira - do ensino público - a travar o uso de telemóvel.
"Há muitos estudos que dizem que o telemóvel é uma adição como outra qualquer. Se é proibido fumar, se é proibido ingerir bebidas alcoólicas, por que não, também, proibir o uso de telemóvel?"
A interdição começou há seis anos. Mónica Almeida ainda enfrenta algumas bolhas de resistência, mas a diretora da escola responde com os resultados alcançados. "Os alunos concentram-se mais nas aulas, participam mais, comunicam mais uns com os outros, têm mais amigos... amigos reais."
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O professor de Educação Visual Cristiano Moreira acrescenta outro argumento. O excesso de tempo frente a um ecrã diminui a capacidade de usar a mão e os dedos de forma precisa. "É mais difícil para os alunos fazer exercícios de precisão... com a régua ou com o esquadro. Eles nem têm a noção disso, por é algo que não valorizam."
Falar cara a cara, olhar olhos nos olhos. A socialização, na visão de Mónica Almeida, é a base de todo o trabalho, a partir da qual, os alunos aprendem e consolidam todos os outros conhecimentos. "Intervalos silenciosos não é normal. Têm de ter barulho, os alunos têm de conviver uns com os outros".
Nuna Tormenta é psicóloga na EB 2/3 António Alves Amorim. Ela salienta que não basta proibir, é preciso apresentar alternativas ao telemóvel. "O que a escola fez, foi dar outras ferramentas aos alunos. A escola tem futebol, tem vólei, tem matraquilhos, tem jogos de tabuleiro, tem cartas..."
A gestão de conflitos é uma das ferramentas que Nuna Tormenta acredita que estes alunos levam para a vida. "Nós esperamos que eles, ao longo de todo o seu processo, sintam-se cada vez mais confiantes para comunicar com os outros, serem capazes de explicarem o que pretendem. Isso é uma ferramenta que vai ser útil no futuro, quer do ponto de vista profissional, quer do ponto de vista mais pessoal, quer seja do ponto de vista mais social. Cruza-se em todas as dimensões da vida deles."
A psicóloga Nuna Tormenta refere, ainda, que a escola básica de Lourosa tem registado menos casos de ciberbuylling.