"Sem trabalho nem formação." Ex-trabalhadores da refinaria de Matosinhos pedem respeito
O processo de desmantelamento da Petrogal começou esta segunda-feira.
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Eram 150, mas apenas dois dos ex-trabalhadores reivindicaram o desmantelamento da refinaria de Matosinhos. Com uma tarja que exibiam e onde exigiam "respeito", concentraram-se pelas 10h00 em frente à entrada da refinaria da Galp de Leça da Palmeira, Matosinhos, distrito do Porto. Ao fundo era visível a presença de mais pessoas, mas elas não passavam de cidadãos solidários.
Na entrada principal da refinaria, não era possível avistar a obra que se iniciou esta manhã.
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"A derrota é constante, só a morte nos faz parar. A luta tem de continuar, não podemos ficar parados e calados ao ver este crime económico. É o nosso dinheiro dos contribuintes que está aqui metido. Quarenta dos 150 despedidos estão na refinaria de Sines, com um ordenado de estagiário. Outros estão a ganhar o ordenado mínimo e a maioria não consegue arranjar trabalho", contou à TSF José Guedes, um dos funcionários abrangidos pelo despedimento coletivo.
O ex-trabalhador da refinaria recorda o passado com saudade perante um futuro cada vez mais incerto.
"Não tive qualquer formação, continuo desempregado, tenho 55 anos e a perspetiva é difícil. Com a minha idade, sou muito novo para a reforma e muito velho para trabalhar. Estou no fundo de desemprego desde setembro de 2021, acaba dia 15 de dezembro... a partir de dia 16 não tenho qualquer valor monetário para viver, não sei o meu futuro", desabafa o ex-trabalhador.
Ana Bazilio, ex-trabalhadora e ex-proprietária do terreno, reconhece que este dia representa o fim de um ciclo.
"É o terminar de seis décadas de grande investimento. Desenvolveu o município de Matosinhos, é o fim de uma linha", afirmou Ana Bazilio.
A petrolífera justificou a decisão de encerramento desta refinaria com o contexto europeu e mundial da refinação, com os desafios da sustentabilidade e com as características das instalações.
Quanto ao futuro dos terrenos, em cima da mesa continua a instalação de um centro internacional de biotecnologia azul e de um polo da Universidade do Porto. Antes disso, vai ser preciso descontaminar e reabilitar os solos, o que só deverá acontecer em 2026 - uma responsabilidade que vai ser inteiramente assumida pela Galp.
A demolição tem uma duração estimada de dois anos.