"Sensível" ao caso, ministro da Cultura quer reunir com Global Media após anúncio de até 200 rescisões
Pedro Adão e Silva aponta que o negócio da Agência Lusa não se concretizou por "motivos políticos" e estranha que a seguir ao anúncio de investimento no GMG, do qual faz parte a TSF, haja a intenção de despedir entre 150 a 200 pessoas.
Corpo do artigo
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, garantiu esta quinta-feira que está "sensível" à situação que o Global Media Group (GMG) atravessa, com o anúncio da intenção de rescindir os contratos com 150 a 200 trabalhadores, e lamenta que ao anúncio inicial de investimento se tenha seguido "um processo de despedimento", mostrando-se disponível para reunir-se com os responsáveis por aquele grupo de Comunicação Social.
"Não posso deixar de ser sensível a isso, houve um anúncio público da entrada de novos acionistas, esse anúncio público foi acompanhado de uma vontade de investir e a primeira notícia que temos é que, afinal, há um processo de despedimento que só pode fragilizar muito redações que - todos vocês e eu também sei bem disso - já estão a depauperadas por relação a um passado não muito distante", lamentou o governante após um contacto com os trabalhadores do Jornal de Notícias (do GMG), que estão concentrados junto à Câmara Municipal do Porto - local onde também decorre o último Conselho de Ministros do atual Governo - e a cumprir o segundo de dois dias de greve.
TSF\audio\2023\12\noticias\07\pedro_adao_e_silva_1
Depois de receber um manifesto dos jornalistas do JN, destacou a sua "disponibilidade e interesse" em reunir-se com uma representação daquele grupo de comunicação.
O CEO do GMG, José Paulo Fafe, afirmou esta manhã, em declarações à RTP3, que "ou o grupo é reestruturado ou pura e simplesmente tem a sua morte anunciada".
O CEO alega que em causa está a falha no negócio da compra, por parte do Estado, da participação do grupo na Agência Lusa - que não se concretizou por falta de acordo político.
"Foi o Estado português que veio propor-nos a compra da nossa posição da Lusa. Foi aceite por nós, foi debatido um preço, foi aceite um preço e ficou tudo combinado. À última hora, estranhamente, por suposta falta de acordo político dos principais partidos, essa venda não se realizou, obviamente com todos os problemas que isso causou a partir daí", assinalou.
TSF\audio\2023\12\noticias\07\fafe_fdp
Questionado sobre se esse era um negócio fundamental para a estabilidade do GMG, explicou que "havia um planeamento financeiro que obviamente previa o encaixe da venda" e que, com a queda do negócio, este, "de um dia para o outro e inesperadamente, deixou de fazer sentido".
O ministro da Cultura apontou, por seu lado, que as negociações para o Estado "ficar com a quase totalidade do capital da Agência Lusa" não chegaram a bom porto "por motivos políticos" relacionados com o "contexto" do país.
"A Agência Lusa pode ser um instrumento muito interessante e muito relevante para apoiar o jornalismo e a comunicação social, porque a nossa intenção - e tínhamos isso previsto no Orçamento do Estado de 2024 e havia dotação para o fazer - era aumentar a indemnização compensatória da Lusa para que o serviço da Lusa passasse a ser gratuito para toda a comunicação social", assinalou o ministro da Cultura, que tem a tutela da Comunicação Social.
TSF\audio\2023\12\noticias\07\pedro_adao_e_silva_2
Questionado se essa gratuitidade do serviço de agência seria suficiente para "salvar os trabalhadores" do grupo, Pedro Adão e Silva assegurou: "Naturalmente, não é."
Esta quarta-feira, o GMG atribuiu o fracasso da venda das suas participações na Lusa a um "processo de permanente interferência política", garantindo que a operação financeira "estava totalmente fechada", com o "acordo expresso" também do PSD.
"Ao longo do período que duraram as negociações entre o WOF [World Opportunity Fund, fundo que atualmente controla o GMG] e Marco Galinha [ex-CEO do grupo] não foram poucas as tentativas de interferência por parte de alguns setores e personalidades políticas, criando e fomentando boatos que visavam descredibilizar o negócio e o próprio fundo de investimento", lê-se num comunicado interno emitido pela comissão executiva do GMG e citado pela Lusa.