"SNS ligado às máquinas." Meia centena em cordão solidário com profissionais de obstetrícia do Santa Maria
Num cordão humano solidário, quiseram mostrar apoio aos profissionais daquele serviço, que mantêm um braço de ferro com o Conselho de Administração.
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Meia centena de médicos, enfermeiros e assistentes operacionais juntaram-se esta quinta-feira em frente ao Hospital Santa Maria, em Lisboa, em solidariedade com os profissionais de saúde do serviço de ginecologia e obstetrícia, que encerra em agosto para obras.
A deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua também lá esteve e, em declarações à TSF, mostrou-se preocupada por a maior maternidade do país estar a enviar grávidas, "independentemente do grau de risco", para o privado. Demonstrando assim que não tem capacidade para acompanhar as grávidas e que o Serviço Nacional de Saúde está a falhar.
"É um sintoma de que o SNS está a começar a ficar ligado às máquinas. Isso é absolutamente preocupante porque o que falta ao Serviço Nacional de Saúde são profissionais e o que os profissionais aqui denunciam é que o SNS e, neste caso, o serviço de obstetrícia do Santa Maria, não precisava de encerrar para que fossem realizadas as obras e muito menos em agosto, quando as obras ainda não estão adjudicadas e, mesmo que estivessem já nesse andamento, só em outubro é que começariam as obras. É evidente para todos os profissionais aqui que o problema não são as obras, que são necessárias ao hospital. O problema é estarem-se a utilizar as obras como justificação para encobrir a falta de profissionais nos vários hospitais de Lisboa", alertou Joana Mortágua.
Para a deputada, as declarações do ex-diretor de departamento do Santa Maria, Diogo Ayres de Campos, na quarta-feira na Comissão Parlamentar de Saúde, falando em razões políticas para as exonerações, só vêm mostrar que os profissionais de saúde estão a ser "uma peça no tabuleiro do Ministério da Saúde" para esconder que há encerramentos por falta de profissionais.
"No meio disto há a exoneração de um chefe de serviço que ainda não foi explicada por outra razão que não o facto de esse chefe de serviço ter tomado voz e uma posição no meio desta decisão que, segundo todos os profissionais nos dizem, é tomada de costas para os profissionais e sem diálogo. Não podemos dizer que há um problema de falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde, que todos os profissionais estão em esforço e depois tomar uma decisão destas sobre uma gestão fundamental do SNS que os envolve", sublinhou a deputada do BE.
Já Afonso Moreira, representante do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, mostrou-se solidário com os colegas.
"Estamos aqui a solidarizar-nos com a postura dialogante e proativa que os médicos e médicas deste país têm assumido. Esta situação de tensão não foi criada pelos médicos, mas houve exonerações no dia seguinte a terem sido expressas preocupações com o encerramento desta urgência obstétrica no contexto das obras, que foi isso que foi referido. Tem existido sempre uma postura pró-ativa e não temos notado essa mesma postura do outro lado", explicou Afonso Moreira.
O sindicalista não vê qualquer razão para que os colegas sejam transferidos para outro hospital desta maneira.
"Respeitamos muito o valor técnico-científico dos nossos colegas e quem está melhor colocado para dirigir estas transições e estas mudanças têm de ser as chefias que têm a confiança dos médicos e médicas deste serviço", defendeu o representante do Sindicato dos Médicos da Zona Sul.
Os médicos e enfermeiros recusaram falar com os jornalistas, alegando não terem autorização.