Socorro nas urgências "comprometido". Governo "tem de reconhecer que tem um problema"
Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar afirmam que tempos de espera do INEM estão a ser "escondidos". Médicos queixam-se de problemas estruturais e da dependência dos hospitais de "médicos tarefeiros".
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Depois de um fim de semana atribulado em vários serviços de urgência da Grande Lisboa, o Sindicato Independente dos Médicos assegura que continua a haver problemas em vários hospitais e insta o Governo a admiti-lo. A falta de médicos e o encerramento das urgências hospitalares estiveram em debate, esta segunda-feira, no Fórum TSF.
"O Ministério da Saúde tem de reconhecer que tem um problema. Não pode dizer que contratou mais médicos e que não há problemas porque, infelizmente, quando a propaganda se confronta com a realidade, a realidade ganha sempre", atira Jorge Roque da Cunha, presidente do Sindicato Independente dos Médicos, no Fórum TSF.
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"Ainda hoje, apesar de todos os esforços que foram feitos, estão em contingência o Hospital do Barreiro, o Hospital de Setúbal, o Hospital Fernando da Fonseca [Amadora-Sintra], o Hospital de Santarém,...", enumera.
Roque da Cunha sublinha ainda que este é um problema antigo e estrutural, lembrando algumas das medidas propostas ao Ministério da Saúde há anos e que passam necessariamente por maiores despesas. "Fazer com que o pagamento do trabalho extraordinário se aproxime àquilo que é feito aos prestadores e que médicos que o pretendam, e que tenham essa competência, façam o seu período total de trabalho em serviços de urgência, as chamadas 'equipas dedicadas'", aponta.
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Também o bastonário da Ordem dos Médicos lembra que o problema das urgências é transversal. Miguel Guimarães pega num dos exemplos mais recentes, o do Hospital das Caldas da Rainha, onde os únicos obstetras que existem são geralmente médicos tarefeiros que trabalham por conta própria a recibo verde e por valores que os hospitais não contratam.
"O que é que acontece quando um hospital fica dependente, porque não tem médicos no seu quadro, das empresas médicas prestadoras de serviços?", questiona o bastonário, no Fórum TSF. "Acontece aquilo que é o óbvio: as empresas prestadoras de serviços (...) falham, ainda mais ao fim de semana, porque depois não têm médicos disponíveis para fazer os serviços que têm de ser prestados."
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Miguel Guimarães aponta que uma das soluções passa por pagar mais pelas horas extra feitas pelos próprios médicos dos hospitais.
"É difícil motivar os médicos que já estão no SNS, que estão a vestir a camisola, quando fazem para além de 150 horas extraordinárias e têm uma remuneração que é cerca de um quarto daquilo que o Estado paga aos médicos que trabalham através de empresas prestadoras de serviços", lamenta o bastonário da Ordem dos Médicos.
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"Os valores de horas extraordinárias deviam ser equiparáveis entre os médicos que estão no SNS e os que estão fora, no mínimo", defende.
Do lado dos enfermeiros, também há queixas de falta de valorização das carreiras. Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, questiona onde para o regime de exclusividade dos médicos e dá o exemplo do Algarve como um dos erros que conduziu à atual situação.
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"É inacreditável que o Centro Hospitalar Universitário do Algarve gaste cerca de 6 milhões de euros em médicos subcontratados e não possa utilizar esse dinheiro para melhorar as condições de trabalho dos profissionais que trabalham todos os dias, todo o ano, neste centro hospitalar", contesta.
Mais de uma hora à espera de ambulância
Por falta de profissionais, também há viaturas médicas de emergência e reanimação (VMER) paradas ou a demorar muito a responder a situações urgentes. A denúncia é de Rui Lázaro, do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar.
"Tem consequências diretas no socorro da população", alerta o sindicalista, no Fórum TSF. "Por cada vez que retiramos uma ambulância - e são às dezenas - do sistema, por falta de profissionais, o socorro fica comprometido", avisa o sindicalista.
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Rui Lázaro revela que têm sido recebidas, "com uma frequência quase diária", várias "denúncias de atrasos no envio de ambulâncias - situações com até mais de uma hora de espera".
"Há uns anos, discutia-se se o INEM demorava 20 segundos ou 40 segundos a atender uma chamada. Neste momento, com largas dezenas de minutos de espera para envio de ambulâncias, esses tempos nem são divulgados. São escondidos, são omitidos", declara.
*Notícia atualizada às 12h47