"Só nos dão um pão e leite por dia." Trabalhadores timorenses nas ruas de Lisboa, sem teto nem comida
Migrantes estão desprotegidos, sem trabalho nem documentação. Bloco de Esquerda acusa Governo e Câmara Municipal de Lisboa de não fazerem nada e empurrarem responsabilidades.
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Norberto tem 22 anos. Chegou a Portugal, vindo de Timor, com a promessa de emprego. Trabalhou temporariamente na agricultura, mas, rapidamente, ficou sem meio de sustento.
"Eu vim para aqui há seis meses. Só tive trabalho dois meses, a apanhar fruta. O trabalho acabou, então não tenho casa. Não tenho dinheiro para pagar", conta.
Agora está a dormir na rua e confessa-se preocupado porque "agora vem aí muito frio". Ao mesmo tempo, conta apenas com uma única refeição por dia. "Tem-me ajudado a Cruz Vermelha, mas só à noite é que dá comida. Pão e leite", relata.
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Agostinho, timorense em Portugal há três meses, está a passar pelo mesmo: "Não tenho casa, estou a dormir na rua (...). Não tenho trabalho, nada. Não há documentos portugueses para trabalhar, é esse o problema".
Foram identificados mais de uma centena de timorenses na mesma situação em que estão Norberto e Agostinho. Alguns já foram acolhidos em abrigos, mas há dezenas ainda na rua.
BE ataca Governo e autarquia
Catarina Martins esteve, esta quinta-feira, numa ação de contacto com vários destes migrantes. A coordenadora do Bloco de Esquerda afirma que está em causa "um problema humanitário urgente" e responsabiliza a Câmara Municipal de Lisboa e o Governo pela falta de respostas.
"Temos questionado o Governo e a autarquia sobre esta situação. O problema? Ninguém está a fazer nada!", atira Catarina Martins. "O Governo e a Câmara de Lisboa empurram de uns para os outros e estas pessoas continuam a dormir aqui, na rua, sem um cobertor. Continuam a não ter o que comer."
"Estas pessoas vieram de Timor, com a expectativa de virem trabalhar, e que foram enganadas", sustenta.
"Em Timor, há um grande problema de desemprego, há muito poucas expectativas para os jovens em Timor. Também sabemos como em Portugal estamos a precisar de imigração. O problema é que, como não há vias organizadas para as pessoas cá chegarem, fica tudo na mão daqueles que ganham milhões com a exploração destas pessoas", nota a líder do Bloco de Esquerda.
"Estão a ganhar dinheiro os agiotas que lhes emprestam o dinheiro para a viagem, estão a ganhar dinheiro os intermediários da mão-de-obra, que lhes ficam com papéis e que lhes ficam com parte do salário, mas estão a ganhar dinheiro também os produtores agrícolas e as empresas de construção civil que empregam estas pessoas durante um mês ou durante uma semana, que sabem que lhes pagam abaixo da lei, e depois as deixam abandonadas", sustenta.
O partido promete exercer pressão para que sejam dadas respostas imediatas aos timorenses e para haja combate à "máfia de tráfico de seres humanos, que está em Portugal".