Transcrição troca António Costa com ministro da Economia, mas divergência "não é problemática"

O primeiro-ministro, António Costa
Patricia de Melo Moreira/AFP
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público assegura à TSF que "não existe daí qualquer relevância de maior para o processo".
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O Ministério Público terá admitido que se enganou na transcrição de uma escuta telefónica, relativa a agosto de 2022, entre Lacerda Machado, consultor da Start Campus, e Afonso Salema, administrador da mesma empresa, apontando que o primeiro ia mover uma influência sobre António Costa, o primeiro-ministro, quando, na verdade, era a António Costa e Silva, ministro da Economia, que se referia, avançou a CNN Portugal.
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Em declarações à TSF, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, Adão Carvalho, desvaloriza a situação, afirmando que "não é muito problemático".
"O facto de existir alguma divergência entre aquilo que é transcrito e o suporte áudio nunca é muito problemático porque qualquer sujeito processual tem acesso ao suporte áudio e é esse que tem validade enquanto meio de prova e, num processo, detetando-se que existe um erro na transcrição, a transcrição por si não é que é o meio de prova, é a gravação e ela está sempre disponível e os sujeitos processuais podem ouvir as gravações todas, incluindo aquelas que não estão transcritas", explica Adão Carvalho.
Apesar de o erro na transcrição ter passado diretamente para o despacho de indiciação, o documento deverá ser alterado.
Adão Carvalho aponta ainda que a "transcrição das escutas não é feita diretamente pelo Ministério Público". "É feita normalmente pelas forças policiais, a PJ ou a PSP ou qualquer outra força policial, e é com base em suporte informático", esclarece, acrescentando que não existe neste lapso "qualquer relevância de maior para o processo".
Em causa está uma escuta, de 31 de agosto de 2022, em que Afonso Salema pede a Lacerda Machado que aborde o Governo para que seja suscitado junto da Comissão Europeia uma alteração em matéria de códigos de atividade económica para os data centers.
Segundo a CNN Portugal, Lacerda Machado respondeu: "Está bem. Eu vou decifrar se é Economia ou Finanças. Se for Finanças em falo logo com o Medina (ministro) ou com o António Mendes, que é o secretário de Estado. Se for Economia, arranjo maneira depois de chegar ao próprio António Costa".
O primeiro-ministro demitiu-se, na terça-feira, depois de saber que o seu nome tinha sido citado por envolvidos na investigação do Ministério Público a negócios do lítio, hidrogénio e centro de dados de Sines, levando o Presidente da República a dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas para 10 de março.
A operação de terça-feira do Ministério Público assentou em pelo menos 42 buscas e levou à detenção de cinco pessoas para interrogatório: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.
No total, há nove arguidos no processo, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.