A presidente do Banco Central Europeu admite que as novas tensões geopolíticas podem levar de novo a inflação a disparar e a obrigar a nova intervenção em 2024.
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Com um mercado de trabalho resiliente e a crescer mais do que o esperado, um mercado de crédito dinâmico, mas em abrandamento, e depois da análise à procura nos combustíveis, na alimentação, na indústria, nos serviços e no turismo e viagens, é a primeira vez que o Banco Central Europeu (BCE) mantém inalteradas as taxas de juro de referência da zona Euro desde julho de 2022, mas pode haver inversão de marcha.
Christine Lagarde avisou esta quinta-feira que pode não ser o fim de um ciclo. A presidente do BCE adiantou que, apesar da inflação ter uma descida significativa desde setembro, há riscos acrescidos com a manutenção da "injustificada guerra da Rússia na Ucrânia e agora o trágico conflito desencadeado pelos ataques terroristas contra Israel, porque pode vir a resultar em menos confiança nos mercados e mais incerteza sobre o futuro".
No entender da presidente do BCE, o crescimento dos riscos geopolíticos pode traduzir-se em novas subidas da inflação, pela previsível escalada dos custos da energia e dos bens alimentares, adianta, e "o alto risco das tensões geopolíticas pode levar a uma subida significativa dos preços dos bens energéticos e alimentação, o que eleva o nível de incerteza das perspetivas de médio prazo".
Seja qual for o cenário, o BCE continua empenhado em fixar a inflação nos 2% a médio prazo, Lagarde afirma mesmo que "estamos no meio de um processo de luta contra a inflação, para levá-la até aos 2%, usando as taxas de juro diretoras como referência e acrescentando medidas adicionais como complemento".
Esta foi a mensagem deixada em Atenas, onde se realizou a reunião de outubro do conselho de governadores do BCE, órgão que anda numa espécie de tournée em nome da descentralização dos serviços do Banco Central Europeu, que tem sede permanente na cidade alemã de Frankfurt.
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Na leitura feita à TSF por Vítor Madeira, economista e analista de mercados da corretora XTB, a decisão do BCE já era esperada pela descida da inflação desde setembro e pelo notório arrefecimento da economia na Europa, em especial em países como a Alemanha, o que obriga o conselho de governadores do Banco Central Europeu a esperar por novos dados da economia mundial para confirmar essa tendência, porque se os riscos geopolíticos aumentarem, então, o BCE terá que mudar de rumo.
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Para já, há algumas tréguas a novas subidas dos juros e, até ao final do primeiro trimestre de 2024, deverá manter-se esta decisão de manutenção das taxas de juro de referência nos 4%, 4,5% e 4,75% respetivamente.
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Mesmo assim, este analista prevê ainda algum impacto nas famílias, que não vão para já sentir qualquer alívio nas prestações do crédito à habitação e, pelo contrário, devem sentir o impacto na hora de pagar os empréstimos bancários, uma vez que revisão da taxa Euribor só deve acontecer em meados do próximo ano.
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