A poupança das famílias portuguesas está no nível mais baixo deste século. É a conclusão do estudo da Corum/Ban&N Research Unit. A consultora indica ainda uma quebra de 34% na poupança nacional devido à inflação superior à média da Zona Euro.
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As famílias portuguesas têm mais de 220 milhões de euros em produtos que se enquadram no conceito de poupança que oferecem retornos reais negativos o que significa cerca de três quartos do total das poupanças nacionais.
O estudo da Corum/Ban&N Research Unit adianta ainda que Portugal é o terceiro país da Zona Euro, onde os depósitos bancários têm o maior peso e os juros oferecidos estão aquém da inflação.
Os depósitos, juntamente com a corrida aos certificados de aforro, reduziram o peso da indústria da gestão de ativos na poupança para apenas 25% e os Fundos de Pensões são os mais castigados. Por cada euro em fundos de investimento, os portugueses aplicam cinco euros em depósitos bancários.
Descreve o estudo que a inflação continua apesar de forma muito desfavorável nas finanças das famílias portuguesas, que estão a baixar de forma considerável a capacidade de gerar poupanças devido à alta dos preços, ao mesmo tempo que reforçam a aplicação em alternativas que persistem com retornos reais negativos.
O conservadorismo histórico dos aforradores portugueses, conjugado com o baixo nível de literacia financeira, leva a que a persistência da inflação em níveis elevados represente uma dupla penalização para as famílias portuguesas.
Depois do crescimento acentuado durante os primeiros tempos da pandemia, a poupança dos portugueses está agora em queda acentuada, situando-se atualmente em linha com o nível mais baixo deste século.
Além de estarem a colocar de parte uma fatia cada vez menor do seu rendimento disponível, "os portugueses não estão a tratar das poupanças da forma mais profícua" assim adianta o documento.
Apesar dos bancos em Portugal continuarem a remunerar os depósitos com taxas inferiores aos juros do Banco Central Europeu, as famílias continuam a privilegiar este destino tradicional para aplicar as suas poupanças.
O stock aumentou 9,5 mil milhões de euros em 2022, cerca de 90% das poupanças angariadas nesse ano, tendo recuado uma fatia considerável na primeira metade deste ano devido à saída de dinheiro para os certificados de aforro.
Em junho deste ano, mais de três quartos do stock das poupanças acumuladas pelos portugueses estavam aplicados em depósitos bancários ou produtos de poupança do Estado, arriscando por isso um retorno real negativo numa altura em que a inflação persiste acima dos 4%.
Nas alternativas tradicionais de gestão ativos, como fundos de investimento, fundos de pensões, PPR e diversos veículos de gestão de património, os portugueses têm já menos de um quarto das poupanças acumuladas.
O valor em junho situava-se em 72 mil milhões de euros, o que representa uma quebra de 2% face ao final de 2022 (apesar da valorização dos ativos) e de 12% contra o final de 2021.
Este total não contabiliza outros destinos de poupança, devido à ausência de fontes (como ações e outros títulos de investimento direto), mas dentro da gestão ativos, também há muitos produtos com remunerações reduzidas.
Daí que o estudo conclua que a fatia da poupança dos portugueses com remunerações reais negativas será bem superior a 75%.
A consultora considera por isso que esta realidade reflete a elevada aversão ao risco dos portugueses e cita dados do Eurostat que mostram que por cada cinco euros aplicados em depósitos, apenas um euro é colocado em fundos de investimento, um dos rácios mais baixos da Zona Euro.
Acresce que do montante aplicado em fundos, os portugueses são os que menos apostam em fundos de ações.