Ucrânia: Cravinho admite "limitações técnicas" no escoamento de cereais por via terrestre
João Gomes Cravinho pede "solução diplomática" para escoamento marítimo dos cereais Ucranianos. O nosso objectivo é (...) não escalar a guerra.
Corpo do artigo
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho afirmou esta segunda-feira, no Luxemburgo, que a União Europeia está a trabalhar num plano para a retirada de cereais por via terrestre. Cravinho reconheceu, porém, que quando comparado com a capacidade de escoamento por via marítima, a opção ferroviária é limitada e menos eficaz.
"Tem a desvantagem, naturalmente, de tratar de volumes mais pequenos", admitiu o ministro, reconhecendo que, por essa razão, "é mais difícil escoar por terra, - por comboio -, mas é o possível nesta fase".
João Gomes Cravinho afirma que há questões técnicas que dificultam o transporte, e ainda não é possível apurar qual o volume de cereais que pode ser exportado por comboio.
TSF\audio\2022\06\noticias\20\joao_francisco_guerreiro_cereais_cravinho_luxemburgo
"Ainda não temos esses cálculos", os quais dependem "de um conjunto de fatores, entre os quais um problema técnico, que é o dos diferentes tamanhos das linhas ferroviárias entre Polónia e Ucrânia", afirmou, exemplificando que "tal como entre Espanha e França, há também uma diferente bitola entre a Ucrânia e a Polónia, e isso dificulta o escoamento".
Cravinho diz que neste momento, as nações unidas lideram as conversações, "havendo várias linhas de ação" que estão a ser exploradas, "em diálogo com a Rússia (...) e com a Turquia para ver se é possível, através do porto de Odessa, retirar cereais".
Via diplomática
O ministro contraria a posição de governos como o da Lituânia que defendeu a entrega de armas à Ucrânia para assegurar o controlo do Mar Negro e o desbloqueio dos portos, para garantir o escoamento de cereais por via marítima. Portugal defende que seja dada preferência à via diplomática.
"O desbloqueamento dos portos é um problema que deve ter uma solução diplomática e não uma solução militar. O nosso objetivo é aliviar as consequências nefastas e não escalar a guerra", afirmou.
Fome
Na manhã desta segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell insistiu na necessidade de "alertar sobre o risco de uma grande fome no mundo, especialmente na África", considerando que "é a guerra que está provocar o aumento de preços da energia e a escassez de alimentos".
"Não são as sanções europeias que estão a criar esta crise", insistiu Josep Borrell, lembrando que "as sanções europeias não incidem sobre cereais, ou fertilizantes", e assim, "quem quiser comprar alimentos e fertilizantes russos, pode fazê-lo sem obstáculos".
"Os atores económicos precisam saber que esses produtos da Rússia estão fora do alcance das sanções. Podem operar, podem comprar, podem transportar, e podem fazer seguros", afirmou Borrell, vincando que a escassez deve-se em exclusivo "ao bloqueio" criado pela Rússia, nos portos Ucranianos.
Crime de Guerra
"É inconcebível. Não se pode imaginar que milhões de toneladas de trigo permaneçam bloqueadas na Ucrânia, enquanto, no resto do mundo, as pessoas estejam a passar fome. Este é um verdadeiro crime de guerra. Então não posso imaginar que isso vá durar muito mais tempo", afirmou o chefe da diplomacia europeia.
"Há milhões de pessoas que não poderão comer esta semana, portanto, a guerra terá consequências dramáticas para o mundo", lamentou. "Apelamos à Rússia para desbloquear os portos e libertar esses produtos", insistiu Borrell.
Questionado sobre se partilha da opinião do chefe da diplomacia europeia, a propósito do bloqueio de cereais por parte da Rússia, o ministro português escusou-se a utilizar a expressão crime de guerra.
"A Rússia está a utilizar a fome em outras partes do mundo como forma de aumentar a sua pressão", acusou Cravinho, considerando que se trata de "um instrumento de guerra contra a Ucrânia.
Desinformação
Os ministros discutiram também as formas de combater a campanha de desinformação "muito eficaz" levada a cabo pelo Kremlin, que "está a procurar desenvolver uma narrativa que associa erroneamente as sanções ocidentais ao impacto sobre a segurança alimentar mundial", disse João Gomes Cravinho.
O assunto foi discutido com ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros que participou remotamente na reunião, quem os homólogos europeus "tiveram o cuidado de explicar (...) que as consequências sobre segurança alimentar do resto do mundo são o resultado exclusivo das ações da Rússia, e não têm a ver com sanções, até porque as sanções excecionam a possibilidade de escoamento de produtos agrícolas", afirmou o ministro
João Gomes Cravinho disse que "Portugal tem um contacto muito próximo com um conjunto de países no continente africano e também com países na América Latina", perante os quais "é fundamental demonstrar os nossos argumentos".
Ou seja, que "as consequências resultam não das ações da União Europeia, mas, pelo contrário, das ações da Rússia", afirmou, considerando que "os russos têm sido bastante eficazes a desenvolver a sua narrativa falsa sobre as sanções".
"Recentemente, o presidente da União Africana do Senegal esteve em Moscovo e, infelizmente, não tinha informação suficiente para contrariar os argumentos que foram apresentados pelo presidente Putin", exemplificou.
O ministro disse que uma das decisões adotada, esta segunda-feira, entre os 27 é que cada um desempenhará "o seu papel" junto dos "colegas africanos" sobre "aquilo que é a realidade no terreno" para demonstrar que "os argumentos [russos] são falsos".
"Mas ainda é preciso mais trabalho, porque, infelizmente, a narrativa russa, sobretudo também através dos meios de comunicação social, tenta ganhar alguma tração, embora seja uma narrativa falsa", afirmou.