A Salineira Aveirense iniciou atividade há cerca de 70 anos. A falta de sal é um dos motivos para o fecho do único espaço que se dedicava à venda de sal.
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Nos últimos dias de portas abertas, a Salineira Aveirense era já um espaço quase vazio onde restavam apenas algumas máquinas utilizadas para a atividade e alguns sacos de sal para venda. Uma imagem do palheiro - assim se chamam estas estruturas de madeira, com pé alto, e fachadas vermelhas - que contrastava com a de outros tempos. "[O sal] Não ia mesmo até ao teto porque não conseguíamos lá chegar. Senão também chegava lá", recorda Célia Santos, que com o marido tem gerido o armazém nos últimos anos.
A Salineira Aveirense foi fundada há cerca de 70 anos pelo sogro de Célia Santos. No Cais de São Roque este foi, em tempos, apenas um entre muitos armazéns de venda de sal. "Isto era tudo palheiros", recorda Célia Santos.
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A decisão de fechar o último armazém dedicado à venda de sal em Aveiro tem vindo a ser ponderada pela família nos últimos dois anos e Célia Santos admite que foi difícil. "[Fecha], em primeiro lugar, por uma questão de saúde do meu marido. Em segundo lugar, porque não há produto suficiente para mantermos o cliente. O que o marnoto faz na marinha já não é suficiente para termos uma porta aberta."
As marinhas de sal têm vindo a desaparecer e, segundo Célia Santos, hoje são cerca de meia dúzia, quando já foram à volta de 300.
Os clientes da Salineira Aveirense eram sobretudo do Norte do país, mas o armazém exportava também para a América, França ou Inglaterra. "A América ainda está convencida de que vamos conseguir mandar o produto para lá, mas não temos."
Quanto ao futuro, Célia Santos admite que o edifício do armazém poderá ser vendido, tendo já havido "muitas" manifestações de interesse.
Na atividade do sal desde os 13 anos, Célia Santos, hoje com 50, diz que, para si, a vida "continua". "É bola para a frente. É claro que isto deixa saudades, mesmo apesar de ser um trabalho muito duro, porque é uma vida."
"Temos de nos habituar. Isto acontece. Tem de ser", acrescenta Maria Neves, filha de Célia. Para a jovem, do passado "ficam as fotografias" e as memórias.
Na cidade, há quem lamente o encerramento da Salineira Aveirense. É o caso de Armando Regala, de 79 anos: "Esse armazém foi o último a morrer. As tradições que existiam no nosso bairro da Beira Mar vão morrendo lentamente. Este era um dos últimos baluartes do sal que tínhamos ali."
A atividade deste último armazém não é esquecida nos passeios de moliceiro pela ria. Nelson conta-nos que, quando se aproximam das casas com frentes de madeira, explica que eram antigos armazéns de sal e que um está ativo. Uma referência que, diz, vai manter mesmo sabendo do seu encerramento: "Vamos continuar a dizer que é o único que está na cidade."