Um mês de Ómicron em Portugal. "Variante tão transmissível como nunca tivemos" poderá ser menos grave do que a Delta
Microbiologista João Paulo Gomes acredita que esta variante não vai levar a uma reorientação da abordagem médica.
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A nova variante Ómicron foi detetada pela primeira vez em Portugal há precisamente um mês. Na altura, o microbiologista João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, apelou à calma, sugerindo que era preciso ter dados mais consistentes para se tirar uma conclusão mais séria sobre a gravidade acrescida desta nova variante. Agora, um mês depois, já existem alguns dados.
"Já passou um mês e, à medida que o tempo vai passando, vão surgindo alguns estudos cada vez com mais robustez, mas que ainda não permitem conclusões definitivas. No entanto, as primeiras indicações de estudos efetuados na África do Sul e no Reino Unido sugerem que a gravidade desta nova variante tão transmissível como nunca tivemos outra poderá não ser tanta como a da variante Delta. São excelentes notícias, caso isso se confirme", explicou na Manhã TSF João Paulo Gomes, entrevistado por Fernando Alves.
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Apesar de já ser dominante em países como Portugal, Reino Unido e EUA, João Paulo Gomes acredita que esta variante não vai levar a uma reorientação da abordagem médica, principalmente porque os estudos apontam para que a severidade não seja tão forte como a da variante Delta. A Ómicron é mais transmissível, mas aparentemente está menos associada a hospitalizações.
"Poderemos até tirar algum benefício disso. Como é uma variante mais transmissível mas menos associada a graus de doença mais severos, poderá permitir que a população crie uma imunidade mais rápida e, eventualmente, podemos assistir a um cenário mais breve do que julgávamos de uma doença endémica e fim da pandemia", esclareceu o microbiologista.
A grande vaga na África do Sul causada pela Ómicron começou a cair na semana passada. O especialista prevê que o mesmo aconteça nos outros países afetados pela variante, mas em fases diferentes.
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"A África do Sul já está em curva descendente, mas pensa-se que ainda não atingiu o pico na Europa, em nenhum país. Há aqui um delay de um mês ou dois, ninguém saberá. Tudo dependerá das medidas que cada país adotar, de como as coisas correrem em cada país. Portugal nem sequer está perto de atingir o pico e isso é perfeitamente aceitável", sublinha João Paulo Gomes.
O investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge reconhece que o aparecimento da variante Ómicron em larga escala abafou o perigo de variantes anteriores - como a Delta, Beta e Gama -, bem mais agressivas por escaparem ao sistema imunitário.
"A Delta era a pior delas todas e dominou o panorama mundial. Era mais agressiva, estava mais associada a hospitalização e tinha todas as características das outras. O facto de agora estar a ser substituída por uma variante muito mais transmissível mas menos associada a doença severa é muito bom", ressalva.
A Organização Mundial da Saúde referiu que a Ómicron se replica mais devagar nos pulmões, mas mais depressa nos brônquios. Algo que, para o investigador, só é determinante para o nível de transmissão. No entanto, os estudos têm demonstrado que ainda existem contradições em relação a este assunto e, por isso, ainda não dá credibilidade a essas conclusões.
"A única coisa que sabemos é que, de facto, entra mais rapidamente nas células, foge mais facilmente ao sistema imunitário e estes dois fatores, conjugados, fazem com que seja mais transmissível. Vai, seguramente, dominar o panorama mundial em termos epidemiológicos", acrescentou o investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.