Ainda menina, enfrentou um cancro no sistema imunitário. Aos 11 anos, Patrícia só queria poupar a família a tão imensa dor.
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"Nada que um sorriso não resolva". É desta forma que Patrícia Paiva, hoje com 29 anos, resume a forma como enfrentou os tratamentos, dolorosos, pelos quais teve de passar em criança.
O sorriso de Patrícia, hoje enfermeira em Neonatologia num hospital de Lisboa, faz parte das memórias de muitos dos que trabalham no Serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia da capital, unidade de referência para o cancro na infância em Portugal.
A doença declarou-se há mais de 18 anos, era menina de 11, em poucos dias.
Certa manhã acordou com os olhos inchados. Uma situação que despertou a atenção da mãe e a preocupou ainda mais, ao perceber que o inchaço não passava com o avançar do dia.
Dois dias depois, mais um sinal. Um gânglio no pescoço, descoberto numa conversa mais acalorada com a mãe, por causa de uma nota escolar que irritou Patrícia. Habituada a notas altas, não gostou daquele "bom" a História.
Olhos inchados e um gânglio no pescoço. Motivos mais do que suficientes para uma visita ao hospital. Exames para trás, exames para a frente e um diagnóstico rápido e duro: cancro nas células do sistema imunitário, nas zonas do tórax e do baço.
A 6 de novembro de 1997, Patrícia entrou no IPO. Recorda-se "como se fosse hoje". Eram nove e 20 da noite, estava deitada na cama a pensar que tinha de poupar a família a tanta dor. E aos 11 anos, preocupamo-nos com isso? A voz ainda treme, mas a resposta é firme: " Foi a primeira coisa em que pensei".
Dois anos e meio de quimioterapia, duas vezes em isolamento, a lidar com tratamentos que eram dolorosos, mas "nada que um sorriso não resolva".
Patrícia garante que foi sempre assim que enfrentou a doença. E que nunca teve medo da morte. Talvez porque, aos 11 anos, "não se tem noção do que é o cancro".
Essa noção só chegou por volta dos 13 - 14 anos. E o facto de, naqueles tempos, morrerem de cancro muito mais crianças do que hoje, a morte ali ao lado só servia para lhe dar "mais força". Porque morrer, "simplesmente, não podia ser".