O espetáculo de Thorsten Grütjen é uma das atrações mais populares do Moods, que decorre até domingo.
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Com gestos calados, ao estilo de Charlie Chaplin, Thorsten Grütjen apresenta no Festival Moods um espetáculo hipnotizante para miúdos e graúdos, que procura refletir sobre o significado da palavra "casa".
"Sabes o que significa nómada?", pergunta Maria José Alves, 49 anos, à filha com dez anos quando a palavra aparece escrita na "camota", a casa de quatro paredes sobre três rodas de Grütjen, também conhecido como "Tosta mista".
Matilde responde que sim e explica à mãe que o conceito lhe foi ensinado na escola, na aula de História.
"Os nómadas foram os primeiros povos a habitar a terra. Eram pessoas que não tinham casa fixa, que sobreviviam do que a natureza lhes dava e andavam sempre de um lado para o outro e costumavam procurar os sítios mais férteis, com água, porque esses sítios tinham mais comida", afirma Matilde.
Sentado numa instalação que faz parte do projeto da "camota", o artista explica à TSF que o objetivo deste espetáculo é precisamente esse: gerar conversa entre as famílias.
"É bom levar essas conversas e perguntas para casa e em conjunto continuar a perceber, sonhar, fazer", afirma.
Inicialmente pensado para refletir sobre a problemática dos "sem-abrigo e os preços do imobiliário", o T0+1 é um projeto que agora, devido à pandemia de Covid-19, se estende ao "nomadismo e às famílias de circo", bem como ao conceito de casa ligado ao planeta Terra.
"A pandemia deixou clara a importância de uma casa. De repente estamos semanas a fio em casa com poucas saídas. E também o nosso planeta como casa. A mensagem do espetáculo mudou bastante", conta Grütjen.
A experiência pessoal do artista também se reflete na apresentação. "Tosta Mista" viveu quatro anos numa autocaravana, "de festival em festival, de espetáculo em espetáculo, pela Europa fora". Além disso, defende que "o nomadismo" anda na "boca do mundo" com o surgimento dos nómadas digitais e que é importante refletir sobre o assunto.
Apesar de ser uma mensagem complexa, que algumas crianças podem não entender, o artista defende "que não se pode começar cedo demais".
"Mesmo crianças pequenas, que se calhar não percebem os textos do espetáculo, com três ou quatro anos, não entendem os conteúdos, o espetáculo tem uma vertente muito plástica, a casa, a montagem, a casa estar em cima de uma mota, que é itinerante e elas retiram alguma coisa disso", conta.
Maria João, com nove anos, veio ao festival com a avó Helena Ferreira, de 69 anos, e é a prova de que estes espetáculos intrigam as crianças. Em conversa com o colega de escola que encontrou no Festival Moods, os amigos perguntavam curiosos: "Ele [Thorsten Grütjen] está a tirar tudo! Será que vai montar uma coisa super gira?"
As "crianças são o futuro. O nosso futuro e o futuro do planeta", sublinha "Tosta Mista", que diz ficar "muito feliz se alguma criança levar alguma coisa, mesmo que inconscientemente", desta "casinha móvel", como apelidou a menina de nove anos.
O festival, que é uma continuação do Fórum de Sustentabilidade e Sociedade, que na quinta e sexta-feira concentrou no salão nobre da Câmara Municipal de Matosinhos diversas personalidades, procura transmitir várias lições sobre o tema da sustentabilidade.
É com uma sensação "especial" que Grütjen participa no evento, já que confessa gostar muito "de passar uma mensagem" nos seus espetáculos.
"Todos devíamos ter hábitos mais conscientes sobre o ambiente e o que nos rodeia", remata.