Urgência da Guarda com funcionamento condicionado aos feriados e fins de semana
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, alerta, em declarações à TSF, que se a saúde dos cidadãos for "posta em causa", não vai hesitar em recorrer à Justiça. "Não queiram que os autarcas da região peçam a cabeça de muitas pessoas que estão na hierarquia do SNS", avisa.
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O serviço de Urgência do hospital da Guarda vai funcionar de forma condicionada aos feriados e fins de semana devido à indisponibilidade dos médicos em fazer mais horas extraordinárias, anunciou esta sexta-feira a Unidade Local de Saúde da Guarda.
Numa nota enviada à agência Lusa, a Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda assegura que o serviço "vai estar aberto 24 horas", mas devido ao constrangimento causado pela indisponibilidade apresentada pelos médicos, o funcionamento será "condicionado" nos feriados e fins de semana".
A ULS pede à população "a maior compreensão e que recorra sempre que possível aos serviços disponibilizados pelos centros de saúde da área de residência".
A unidade de saúde reforça o pedido para que "à Urgência só quem é urgente!", lê-se na nota.
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, "lamenta profundamente" a situação, defendendo que o que se deve impor é "o bom senso e o sentido de responsabilidade, a começar pelos responsáveis governamentais, passando pelas administrações regionais de saúde e a administração do SNS e naturalmente às administrações locais de todas as ULS do hospital da Guarda, à Ordem dos Médicos".
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"O meu profundo lamento pela situação ter sido arrastada até este ponto e os responsáveis da área não terem acautelado devidamente, em devido tempo, a saúde das pessoas e de todos os cidadãos - não só do concelho da Guarda, mas da área de abrangência do Hospital Sousa Martins", afirma, acrescentando que "todos devem ser absolutamente responsáveis e terem sentido de responsabilidade, porque aquilo que está em causa é a manutenção da saúde das pessoas e com a saúde ninguém deve brincar neste país".
O autarca revela ainda que já falou com o ministro da Saúde, mas, uma vez que a situação "não está a caminhar num sentido favorável", é forçado a deixar alguns "avisos".
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"Em primeiro lugar, as coisas são tratadas no recato, no recato de uns telefonemas, nas reuniões, nos gabinetes, enfim, é no recato. O senhor ministro estava a acompanhar a situação e queria fazer tudo o que está ao seu alcance para resolver a situação. Perante as notícias que hoje têm vindo a público, e mesmo a publicação que foi feita pela administração do nosso hospital, as coisas não estão a caminhar num sentido favorável e por isso é que eu tenho de fazer esta declaração, este apelo ao sentido de responsabilidade de todos os envolvidos, a começar na chefia governamental, a terminar nos médicos, toda a cadeia hierárquica do SNS porque está em causa a saúde pública do nosso país, da nossa região, do nosso concelho", explica.
Sérgio Costa alerta, assim, que "a saúde das pessoas não pode estar em causa" e avisa que não vai hesitar recorrer à Justiça se tal for necessário.
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"Há um aviso que eu faço: se no caso do Hospital da Guarda, se algum cidadão guardense adoecer ou sofrer algum mal provocado por esta situação toda, o Município da Guarda não deixará de exercer a sua magistratura de influência e, se tiver de se começar o foro, recorrer aos tribunais e responsabilizar todos os responsáveis por esta matéria", garante, assegurando ainda que "se isso vier a acontecer, há cabeças que vão ser pedidas e que vão ter de ser roladas a todo o nível da administração pública".
"É este o aviso e o apelo que eu faço ao sentido de responsabilidade e que não queiram que os autarcas da região peçam a cabeça de muitas pessoas que estão na hierarquia do SNS", atira.
A diretora clínica da ULS, Fátima Cabral, tinha admitido à Lusa, na terça-feira, a possibilidade da recusa dos médicos em fazer mais horas extraordinárias comprometer o funcionamento das urgências, criando falhas nas escalas das noites e fins de semana.
"A redução de médicos disponíveis para o Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica pode vir a comprometer a escala de serviço, nomeadamente nos períodos noturnos e fins de semana", precisou a responsável.
A diretora clínica assegurava que estavam a ser feitos esforços para colmatar as falhas nas escalas, admitindo a possibilidade de recorrer a médicos em prestação de serviço.
Fátima Cabral confirmou que 15 médicos já tinham entregado minutas de indisponibilidade para trabalho extraordinário acima de 150 horas já realizadas, o limite estabelecido para o ano.
A diretora do serviço de Urgência, Adelaide Campos, tinha confirmado à Lusa que as escalas para o mês de outubro estavam incompletas pelo fato de um grupo de médicos se ter manifestado indisponível para fazer mais horas extraordinárias, tendo em conta que já tinham atingido o limite anual.
"Vai haver dias em que as equipas não se podem formar, porque não há número de especialistas suficientes para cada uma das equipas e, portanto, a Urgência pode ter que encerrar", alertou a diretora do serviço de Urgência.
Adelaide Campos disse esperar que "o senhor ministro da Saúde e o CEO do SNS [Serviço Nacional de Saúde] percebam aquilo que se pode vir a passar nas próximas semanas".
A diretora realçou que o limite das horas extraordinárias já foi atingido há muito tempo e que "esta situação não se pode manter".
"Não podemos ter um distrito de 160 mil habitantes sem hospital que receba doentes urgentes. Não é viável, não é possível", alertou.