Urgências em risco. Lei das horas extraordinárias dos médicos "deve ser corrigida"
Lei permite pagar mais aos médicos que trabalhem acima de 150 horas extraordinárias por ano, desde que se voluntariem para o fazer.
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Não serão difíceis de resolver as dúvidas levantadas pela Procuradora-Geral da República (PGR) à constitucionalidade da lei das horas extraordinárias dos médicos nas urgências, considera o o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).
Segundo a CNN, a PGR considera que estão a ser violadas duas normas - a direito ao trabalho em condições socialmente dignas e o princípio da proporcionalidade - mas Xavier Barreto acredita que apenas está em causa um problema de redação da lei que pode ser rapidamente corrigido.
Em declarações à TSF, o representante dos administradores hospitalares confirma o alerta do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de que pode estar em risco o funcionamento de muitas urgências hospitalares.
"Se for declarada inconstitucional, naturalmente que as horas extras serão pior pagas. Isso poderá fazer com que os médicos tenham menos incentivo a fazer essas horas e, nesse sentido, pode, de facto, prejudicar a elaboração de escalas (...) durante um período que, como sabemos, vai ser crítico."
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O presidente da APAH lembra que os médicos e enfermeiros sempre ultrapassaram o limite de 150 horas extraordinárias por ano por vontade própria. A diferença, agora, é que passariam a receber 70 euros/hora adicionais cada vez que trabalhassem para além do limite máximo de forma voluntária.
Ao ler este diploma, a PGR terá assumido que "como está previsto que [os médicos] possam fazer mais do que as 150 horas, está implícito que são obrigados a fazê-las", e poderão aparecer nas escalas de trabalho com horários alargados, aponta. "Podia ter sido mais bem redigido, podia ter uma redação mais clara", reconhece Xavier Barreto.
"Acho que vamos a tempo de corrigir, que é aquilo que deve ser feito - deve ser corrigido", defende.
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Xavier Barreto assegura ainda que nunca teve conhecimento de nenhum médico que tenha sido pressionado a fazer mais que 150 horas, e lembra que também cabe às instituições garantir o descanso e segurança dos profissionais de saúde.