Médicos do Santa Maria colocam em causa obras do bloco de partos e colaboração com São Francisco Xavier
A maioria dos médicos do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria manifesta preocupação com as obras de requalificação do bloco de partos e pedem que sejam criadas condições de "segurança e dignidade" na passagem para o São Francisco Xavier.
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Uma carta com data de 15 de junho e assinada por 34 dos 37 médicos que compõem a equipa médica do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria coloca em causa, segundo avança o jornal Público, o plano de obras no bloco de partos neste hospital e pede condições de "segurança e dignidade" na passagem para o São Francisco Xavier.
Na noite de segunda-feira, o diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Diogo Ayres de Campos foi afastado por questionar o projeto de reestruturação no Hospital de Santa Maria e a colaboração com o S. Francisco Xavier.
Segundo uma nota do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) divulgada esta segunda-feira, a direção do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução tem vindo assumir posições que, "de forma reiterada, têm colocado em causa o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras da nova maternidade do HSM [Hospital Santa Maria]".
Será a 1 de agosto que Santa Maria fecha as portas da urgência de obstetrícia e o bloco de partos para dar lugar às obras de requalificação durante dois meses. A maioria dos partos será feita no hospital São Francisco Xavier, mas 34 médicos do Santa Maria dizem que nem sequer sabem como é que elas vão ocorrer.
Não se sabe quantos profissionais serão deslocados para assegurar o serviço e muito menos se o hospital São Francisco Xavier tem a capacidade suficiente. Estes médicos temem mesmo que fique sobrelotado, já que só há "11 salas de partos, menos duas do que as necessárias, e 38 camas para o pós-parto, menos 16 do que as que seriam precisas". A assistência ao parto "deverá ficar reduzida em 25%".
Outra das preocupações dos médicos que assinam esta carta está relacionada com o transporte das grávidas seguidas em Santa Maria. O hospital São Francisco Xavier "não tem qualquer linha de metropolitano perto e a única alternativa pública entre os dois hospitais é a utilização de, pelo menos, dois autocarros, numa viagem de uma hora". Há grávidas que têm mostrado essa "insegurança" e estão a procurar outras alternativas para assistência ao parto, segundo é relatado na carta.
Os médicos lembram ainda que o transporte será dificultado, porque o encerramento para obras será feito na altura da Jornada Mundial da Juventude, um encerramento que, segundo dizem, nem sequer era necessário e que serve apenas para justificar a colaboração com o hospital São Francisco Xavier, um argumento que "foi mal recebido pela equipa", que relata "pressões" para que essa colaboração seja assegurada.
As obras também são alvo de crítica, isto porque, no entender dos 34 médicos, não faz sentido remodelar o bloco de partos e deixar, tal como está, a zona de internamento das grávidas, que não oferece as mínimas condições e é fundamental para todas as mães e recém-nascidos.
"Não é benéfico para a imagem do HSM nem do Serviço Nacional de Saúde oferecer instalações de excelência num novo Bloco de Partos, sem oferecer no internamento do puerpério condições minimamente ajustadas às expectativas atuais da população, que inclui um máximo de duas camas por quarto e uma casa de banho em cada quarto", escrevem.
Os médicos dizem ainda que foi recebida com "desconforto" a ideia de ser criada, em Santa Maria, "a maior maternidade do país", sem saber "em concreto que remodelações vão ser feitas e que recursos humanos serão precisos".
A deslocação de médicos entre os dois hospitais durante as obras também é uma preocupação. Os signatários da carta avisam que a equipa médica só poderá assegurar três das oito equipas de urgência no São Francisco Xavier.
Para colaborarem com este hospital, os médicos de Santa Maria deixam um caderno de encargos: querem ter a certeza de que há condições para realizar os partos em "segurança e dignidade", querem conhecer o que vai mudar em Santa Maria e exigem participar nas futuras reuniões com o São Francisco Xavier.