Santa Maria: médicos ameaçam sair para o privado e furar plano da maternidade para o verão
A insatisfação é antiga e para alguns médicos pode ser a gota de água. Entre os 34 que assinaram a carta com queixas à forma como irão ser transferidos, são muitos os que ameaçam sair rumo ao setor privado.
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O plano do Governo para juntar as equipas de ginecologia e obstetrícia no Hospital de São Francisco Xavier até setembro, enquanto houver obras na maternidade do hospital de Santa Maria, pode estar em risco. A administração do maior hospital do país demitiu o diretor do departamento de ginecologia, obstetrícia e medicina de reprodução, Diogo Ayres de Campos, mas ao que a TSF apurou, há mais médicos deste departamento a ameaçarem bater com a porta. Caso isso aconteça, pode não haver especialistas suficientes para garantir os partos deslocados para o São Francisco Xavier.
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A insatisfação é antiga e para alguns médicos pode ser a gota de água. Entre os 34 médicos que assinaram a carta com queixas à forma como irão ser transferidos, sobretudo ginecologia e obstetrícia, são muitos os que ameaçam sair rumo ao setor privado.
Fontes do Hospital de Santa Maria confirmam à TSF que há quem se recuse a trabalhar com o novo diretor do departamento, Alexandre Valentim Lourenço. O médico entra para substituir Diogo Ayres de Campos, a escolha da ex-ministra da Saúde, Marta Temido, para reorganizar as maternidades. Ayres de Campos defendia alguns encerramentos em vez do funcionamento rotativo das maternidades, que veio a ser decidido pela direção executiva do SNS.
Tudo isto coincide com o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que aponta falhas nos procedimentos que acabaram por resultar na morte de uma grávida, em agosto do ano passado, precisamente durante uma transferência do Hospital de Santa Maria para o Hospital de São Francisco Xavier.
Além disso, terão também caído mal as declarações de Diogo Ayres de Campos, há dias, no Canal S+, ao contestar as conclusões da IGAS. "A questão é quem é que define as boas práticas; se é um perito, se é um grupo de peritos ou se são de facto as organizações internacionais que fazem recomendações", afirmou.
Estas declarações não terão sido autorizadas pelo Centro Hospitalar de Lisboa Norte, a que pertence o Hospital de Santa Maria. A administração prometeu remeter-se ao silêncio enquanto decorre o inquérito agora nas mãos do Ministério Público.