Antigo bastonário defende que exoneração de Ayres de Campos deve ser "respeitada"
Miguel Guimarães não acredita que as críticas feitas pelo diretor exonerado ao encerramento rotativo de maternidades possam ter sido uma base para a decisão.
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O antigo bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, defende que a decisão de exonerar o diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Hospital de Santa Maria, Diogo Ayres de Campos, tem de ser respeitada, mas alerta que o próprio tem de se explicar para evitar prolongar a polémica.
Segundo uma nota do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) divulgada segunda-feira, o diretor exonerado tem vindo assumir posições que, "de forma reiterada, têm colocado em causa o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras da nova maternidade do HSM [Hospital Santa Maria]".
Em declarações à TSF, Miguel Guimarães reconhece que, se as críticas eram feitas de forma reiterada, "eventualmente pode haver necessidade, de facto, de substituição".
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Para o antigo líder da OM, o hospital Santa Maria "tem aqui uma responsabilidade muito grande" não só na "rapidez com que serão realizadas as obras da nova maternidade", mas também "naquilo que é a colaboração que tem de existir com o hospital, que obviamente vai dar resposta" às muitas grávidas que já tem.
Ainda assim, e apesar de defender que seria "importante" ouvir Ayres de Campos, a decisão do Conselho de Administração do hospital, presidido por Ana Paula Martins, que tem "feito um bom trabalho", deve ser "respeitada". Além disto, assinala Miguel Guimarães, "é fundamental" que a maternidade seja feita "rapidamente", mas também que seja garantida "uma resposta de qualidade àquilo que são as necessidades das grávidas e dos seus bebés".
No final de 2022 e início de 2023, em declarações à TSF, Ayres de Campos defendeu publicamente que o modelo de fecho rotativo de maternidades, traçado pela direção executiva do Serviço Nacional de Saúde não era defensável num país europeu, mas Miguel Guimarães não acredita que esse possa ter sido um motivo para a exoneração, até porque, comenta, "ninguém é favorável" ao modelo.
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"Penso que nem o próprio diretor do executivo do SNS é favorável. Ele fá-lo, e está a gerir a situação desta forma, porque não está a conseguir ter outras alternativas, nomeadamente os especialistas suficientes da área de Obstetrícia para garantir que todas as maternidades estão a funcionar a 100%. Portanto, isto que o professor Diogo Ayres de Campos defendia é uma coisa que qualquer pessoa defende", explica Guimarães, que afasta que esse possa ter sido o "motivo principal ou base para esta substituição".
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No verão, antecipa o antigo bastonário, quando vão decorrer estas obras, os problemas devem aumentar não só pela sua realização, mas também porque é "um período em que há mais gente de férias", entre eles médicos, enfermeiros, assistentes técnicos e assistentes operacionais.
Ainda assim, nota, a direção executiva do SNS "também teria uma palavra a dizer, porque as obras podiam ter sido feitas noutra altura porventura", embora reconheça que este "era o plano que estava traçado, o plano que foi definido, e é importante existir um plano".
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Perante este cenário e combinação de fatores, Miguel Guimarães nota que é preciso garantir uma coordenação eficiente entre o Santa Maria e o São Francisco Xavier para garantir que tudo corre bem.
Sem saber "exatamente quantos médicos é que o Santa Maria vai ter nesta altura", o ex-bastonário avisa que "quem estiver a dirigir o serviço de Obstetrícia-Ginecologia" terá de coordenar-se não só com a direção do hospital, mas também com a direção executiva do SNS, envolvendo "todos os médicos que vão participar nesta resposta".
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"Eu não sei se está previsto os médicos do Santa Maria irem ajudar no hospital São Francisco Xavier, mas é possível que esteja previsto e, portanto, se não existir aqui um espírito de colaboração, se não existir, de facto, uma dinâmica que seja positiva, é mais difícil resolver este problema", avisa. E apesar de não se prolongar "durante muitos meses", os dois que fazem parte da previsão - agosto e setembro - "são difíceis".