Utentes do lar "morreram de Covid-19". Autarca de Reguengos desmente Ordem dos Médicos
José Calixto contesta o relatório da Ordem dos Médicos, que admite a possibilidade de os óbitos se terem devido a condições deficientes na instituição, à desnutrição ou desidratação dos idosos.
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A Covid-19 esteve na origem da morte dos 16 utentes do lar de Reguengos de Monsaraz. É o que revelam as certidões de óbito, assegurou à TSF o presidente da autarquia.
"Tenho conhecimento de que, em todas as certidões de óbito daqueles que infelizmente perdemos, não estão os motivos de desidratação ou desnutrição. Em todas as certidões de óbito, o motivo é a infeção generalizada por Covid-19", assinala.
Em declarações à TSF, José Calixto contesta o relatório da Ordem dos Médicos, que admite a possibilidade de os óbitos se terem devido a condições deficientes na instituição. O presidente da câmara e dirigente do conselho de administração da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, que abrange o lar, reconhece, ainda assim, que, a partir do momento em que surgiu o surto de infeções, o lar transformou-se num cenário de guerra.
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Sobre o relatório da comissão de inquérito da Ordem que representa os médicos, o autarca assume "a dificuldade em falar de um documento" que não leu e ao qual não tem acesso. Mas deixa críticas à sobreposição de denúncias sobre a situação do lar antes e depois da chegada da pandemia. "É com imensa tristeza que eu vejo uma colagem de denúncias de uma fase posterior a dia 19 ou 20 de junho, àquilo que era o lar antigamente. O lar deixou de existir quando se criou um ambiente Covid-positivo. O lar deixou de ser um lar para passar a ser um alojamento sanitário."
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O cenário antes da Covid-19 não prenunciava problemas, frisa: "São feitas inspeções periódicas, pela Segurança Social, e a última que tenho não me reportava factos dessa natureza." Depois, tudo se alterou. "Não era o ambiente anterior do lar, e, se houvesse alguma situação menos clara, as famílias e toda a estrutura técnica teriam de a reportar ao conselho de administração", defende.
O presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz nega também que os autores da auditoria para a Ordem dos Médicos alguma vez tenham pedido acesso às instalações do lar, ao contrário do que refere o relatório. "Não corresponde à verdade. Eu estava no espaço em que foram feitas as entrevistas e as audições às pessoas, apresentei-me, disponibilizei-me, e nada foi solicitado para a visita ao lar. Com certeza que teriam acesso."
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José Calixto sublinha que até hoje não leu o relatório que a Ordem dos Médicos divulgou à comunicação social e insiste que nunca foi ouvido. O autarca afirma que ainda esta quarta-feira pedirá à ministra da Saúde que lhe ceda o documento. Assegura que a transferência para um pavilhão foi um processo desencadeado de imediato, logo a 1 de julho, quando a Autoridade de Saúde Pública determinou. Mas, na perspetiva de José Calixto, "as entidades também tinham de confiar que aquelas equipas que lá estavam tinham a capacidade para ultrapassar essas dificuldades".
"Desde o início, eu disse que a Proteção Civil tinha disponíveis instalações diferentes para fazer a transferência dos utentes, se isso fosse considerado adequado pela Autoridade de Saúde Pública. Eu também percebi que a Autoridade de Saúde Pública queria evitar uma transferência generalizada dos doentes para seu conforto, para os defender também", aponta.
José Calixto foi convidado pelo conselho de administração para presidir ao órgão e diz que exercerá o cargo enquanto a fundação assim o entender, "só até ao limite das funções autárquicas".
O surto no lar de Reguengos de Monsaraz esteve na origem de 18 óbitos, 16 dos quais utentes, uma funcionária e um homem da comunidade.
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