Pela primeira vez, neste congresso do Chega, André Ventura admitiu que os resultados que pretende para o partido podem não estar tão próximos quanto desejaria. Ainda assim, garante que formar governo está "no destino" do Chega.
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Deus, o destino e os ataques imparáveis a Rio. Mais um discurso de André Ventura no congresso do Chega, que decorre este fim de semana em Coimbra, mais uma corrente de críticas à liderança do PSD e a tentativa de se assumir como uma alternativa antissistema - e, desta vez, de contornos "divinos".
Perante uma orla de apoiantes fervorosos, André Ventura chama ao Chega "o novo sol" de Portugal e prevê que a chegada do partido à liderança do país é algo que "está destinado". E não, não se fica por aqui. Vai ainda mais longe e "segreda" a todos os presentes que acredita que foi "Deus"quem o colocou onde está.
Numa onda discursiva sem um fio condutor definido, o líder do Chega volta a agitar as já habituais bandeiras da "luta contra a corrupção" e contra a "subsidiodependência", seguidas de ataques simultâneos ao Executivo de António Costa e à oposição de Rui Rio. "O que me espanta não é que o PS faça tudo ao contrário, é que a direita fique em silêncio", atira Ventura, que acusa o presidente do PSD de se subjugar a António Costa.
O presidente do partido sugere ainda que Costa tem medo de sair do poder, receando que a direita e o Chega tomem o seu lugar, apontando, a título de exemplo, o resultado das últimas eleições nos Açores, em que o PSD procurou um acordo com o Chega para assumir o Executivo e tirar os socialistas do governo. Na visão de André Ventura, o Chega já passou "de um partido dispensável a um partido fundamental".
Mas nem só de autoelogios se fez este discurso... houve também lugar para assumir erros anteriormente cometidos e espaço para admitir que os grandes objetivos a que o Chega se propõe podem não estar aí tão à espreita como Ventura tem feito parecer. Contrariamente à linha que tem seguido durante todo o congresso, neste discurso André Ventura vem rejeitar promessas de "chegar a bom porto rapidamente". "Bom porto" nos resultados das autárquicas deste ano? Nas próximas legislativas? Ventura não especifica, mas assume que é preciso "muita luta" para lá chegar.
Neste discurso, que antecedeu a votação da moção que apresenta no congresso e a eleição dos novos membros da direção e dos conselhos nacionais do partido, o presidente do Chega fez ainda questão de agradecer à equipa que o acompanhou nos últimos anos e garantiu que, assim que forem eleitos, os novos órgãos do partido irão prontamente reunir-se para discutir e clarificar o programa político do partido.