"Via a História como um constante problema, uma tarefa permanente." Borges de Macedo nasceu há cem anos

Jorge Borges de Macedo
Global Imagens (arquivo)
No dia em que passam cem anos do nascimento de Jorge Borges de Macedo, esta é a janela para a obra do historiador que uma série de professores universitários e investigadores que foram seus alunos pretendem homenagear. A homenagem vai prolongar-se ao longo dos próximos meses, e um dos seus promotores é Álvaro de Matos, historiador e investigador do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Historiador, investigador no Instituto de História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Álvaro de Matos é um dos promotores da homenagem sobre os cem anos do nascimento de Jorge Borges de Macedo.
"O historiador exigente" parece ser uma legenda apropriada à obra de Borges de Macedo. Fernando Alves e Álvaro de Matos concordam, "porque era, em primeiro lugar, exigente com ele próprio".
O investigador revela, numa entrevista à TSF, que os caminhos dos dois se cruzaram desde cedo: "Fui aluno dele na Faculdade de Letras, na licenciatura. Voltei a ser aluno dele no mestrado, de História Contemporânea, também na mesma faculdade, e, depois, tive o privilégio de ser seu assistente na Universidade Católica portuguesa, onde dávamos os dois História Económica."
Álvaro de Matos enaltece-lhe o engenho e arte de "ter abraçado a História, na investigação, na publicação de livros, na resistência".
"Eu, que entrei para a Faculdade de Letras com a ideia de saltar para Direito, de repente, confrontando-me com aquela figura, com aquele professor brilhante, fiquei literalmente viciado na História", recorda. As aulas de Borges de Macedo, eram - palavras do investigador Álvaro de Matos - momentos de "interpelação crítica constante".
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Ver a História como ponto de partida com várias possibilidades à chegada era uma das competências mais elevadas do docente, assevera Álvaro de Matos. "Ele ensinava-nos a pensar a História pela própria cabeça. Eu acho que essa é a grande virtude dele. Era um professor muito exigente, era um professor atento, que ajudava os alunos. Era um professor muito problematizante. Ele via a História como um problema, como um constante problema, como uma tarefa permanente, e era um professor brilhante que nos agarrava naquelas duas horas de sapiência e de lição permanente, sobretudo pelas leituras que ele nos dava."
Da memória militar à História da Saúde e da Higiene, todos os desafios que colocava eram surpresas para instigar o intelecto, rememora Álvaro de Matos. À pergunta de Fernando Alves, sobre a obra de Borges de Macedo que recomendaria a um estudante de História em começo de percurso, Álvaro de Matos atira: "Essa pergunta vale um milhão de dólares." Num arquivo de mais de 400 títulos, o investigador realça a força do "conjunto", que abrange análises políticas e económicas, culturais e sociais.
O afastamento da Faculdade de Letras, logo após o 25 de Abril, deixou-o "um pouco magoado", mas "a paixão pela docência, o interesse pela História e a preocupação com os alunos" estavam acima de qualquer outro sentimento, garante Álvaro de Matos. Em 1981, quando reintegrado, Jorge Borges de Macedo "voltou a abraçar a causa da pedagogia".
Marxista na juventude, esteve muito perto do marcelismo mais tarde e foi também amigo de Mário Soares. Tentando arrumar confusões ideológicas, Fernando Alves questiona Álvaro de Matos sobre as convicções políticas do amigo. "Era um heterodoxo crítico", resolve o investigador do Instituto de História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. "Dizia Mário Soares: 'O Jorge não era só inteligente, mas também iconoclasta, irreverente.'"
Um "conservador heterodoxo", como Álvaro de Matos o caracteriza, Borges de Macedo evolui, mais tardiamente, para a ideologia marcadamente mais à direita.
O historiador que há cem anos nasceu foi ainda uma figura central na aquisição de documentos do acervo da Torre do Tombo. Ensaísta, pedagogo, tradutor "exímio", Jorge Borges de Macedo chegou à notoriedade sobretudo enquanto pensador e investigador.