Violência contra idosos: muitos escondem por vergonha, filhos são os agressores
A coordenadora da Equipa de Prevenção da Violência em Adultos do Hospital de São João afirma que é importante denunciar os casos de violência contra os idosos, uma vez que muitos deles não têm noção de que são vítimas de violência ou sentem vergonha.
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"A violência contra idosos é um problema de saúde pública", o alerta é da coordenadora da Equipa de Prevenção da Violência em Adultos do Hospital de São João. Esta quinta-feira assinala-se o Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa.
Maria João Peixoto afirma que as unidades de saúde são uma porta de entrada para as pessoas idosas que sofrem maus tratos e é preciso estar alerta para identificar estas vítimas. "Trata-se de um problema de saúde pública, a população idosa é mais vulnerável e a porta de entrada na urgência é um ponto de alarme para os profissionais de saúde e uma oportunidade de intervenção que não deve ser desperdiçada. A urgência, o internamento, a consulta é a forma que estas pessoas têm muitas vezes de serem protegidas e, portanto, deve ser feito um alerta geral para que possam ser identificadas e devidamente orientadas."
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A coordenadora da Equipa de Prevenção da Violência em Adultos do Hospital de São João refere que muitas destas pessoas não têm noção de que são vítimas de violência ou sentem vergonha. "Muitos destes idosos nem sentem que estão a ser violentados, só numa fase posterior de confiança com o médico referem situações que enquadramos como violência. Muitos destes idosos sentem vergonha. Muitas vezes são os próprios filhos os perpetradores da violência. Nesta população é muito frequente a violência económica e têm medo de denunciar, porque receiam ser transferidos para instituições. É algo a que devemos estar muito atentos."
Maria João Peixoto sublinha que, por tudo isto, é muito importante denunciar estes casos.
"Acreditamos que a denúncia é fundamental, a violência económica é um caso de violência doméstica e estes casos já têm via verde. Os próprios funcionários públicos têm obrigatoriedade de denúncia caso identifiquem uma situação destas. Os profissionais que lidam com estas pessoas, os fisioterapeutas, por exemplo, podem fazer queixa diretamente ao ministério público. Os idosos também podem fazer queixa, com apoio e ajuda, se perceberem o que está em causa."
Esta quinta-feira, o Hospital de São João realiza o Fórum "O Espetro de Violência na Pessoa Idosa". Maria João Peixoto diz que está em discussão o idoso como vítima e como agressor. "Temos casos de demências em que as famílias e os cuidadores não entendem que estas alterações de comportamento podem acontecer, mas é importante perceberem que o comprometimento cerebral, agressividade, intolerância, oposição é algo que pode acontecer e que é preciso perceber que se trata de um problema de saúde. Por outro lado, o idoso como vítima, não só com violência física ou económica, mas negligência de cuidados. Temos idosos dependentes a quem não são dados cuidados de higiene, alimentar, carinho, contacto social e isso também é violência."
A coordenadora da Equipa de Prevenção da Violência em Adultos do Hospital de São João afirma que atualmente os casos de violência contra idosos estão mais identificados, há um alerta maior e a legislação também protege mais as vítimas.
O Fórum "O Espetro de Violência na Pessoa Idosa" realiza-se a partir das 09h30, no Auditório Dr. António Macedo, em Valongo.