Zeferino é angolano, vota em Portugal e tem um desejo: "Que todos façamos alguma coisa por Angola"
As eleições gerais de esta quarta-feira são as primeiras em que os angolanos no exterior vão poder votar.
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Zeferino Boal está em Portugal há quase 50 anos e é um dos 7.600 angolanos registados para votar nas eleições gerais e decidir quem se vai sentar no lugar de presidente do seu país.
Deixou Angola, ainda menino, em 1975, mas as ligações às raízes manteve-as sempre. "Mantenho contactos e estive, durante anos, à frente da Casa de Angola e estou no movimento associativo de angolanos e africanos", conta, em conversa com a TSF.
Em Portugal, Zeferino fez carreira militar na força aérea. Ao longo dos anos, tem regressado várias vezes a Angola e por lá, em serviço, passou um período longo por altura dos Acordos de Bicesse.
A paz acertada no início dos anos 90 não foi duradoura, e a guerra civil só chegaria ao fim em 2002. Zeferino fala num antes e e depois da paz. Antes, "havia três Angolas: a Angola de Luanda; as capitais e províncias controladas pelo governo e a zona, digamos mais mato, controlada pela UNITA."
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Agora, e depois de duas gerações perdidas entre a descolonização e a luta entre irmãos, desponta uma nova geração já nascida na era em que o acesso à informação se globalizou. Devido à evolução conjuntural do mundo", em que existe "facilitação de comunicação e de deslocação", surgem gerações "muito mais bem formadas em cargos de governação", constata.
As eleições gerais de esta quarta-feira são as primeiras em que os angolanos no exterior vão poder votar. Zeferino vai fazê-lo, mas não se mostra particularmente entusiasmado. "Já votei em atos eleitorais associativos, institucionais, desportivos tantas vezes. Não é a primeira vez que voto", diz.
As expectativas ficam guardadas para os resultados e para o esclarecimento de uma dúvida. Irão os angolanos no exterior expressar um voto diferente ao da maioria do povo angolano, como se diz? "Acho que não vai acontecer isso", atira.
Mas, seja qual for o resultado, Zeferino Boal olha com esperança para o futuro do país, um futuro para o qual todos os angolanos devem contribuir: "Que angolanos não esperem que o governo ou o Estado faça por eles, mas que todos façamos alguma coisa por Angola."
Em Portugal, a votação acontece nos consulados de Angola em Lisboa e no Porto. No total, dos 80 mil angolanos que vivem por cá, registaram-se para votar 7 mil e 600 pessoas.