"Incompetência" e "desleixo". É assim que os sindicatos dos médicos veem o não pagamento este mês dos aumentos salariais que lhes estavam destinados enquanto funcionários públicos.
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O Ministério da Saúde justificou com um erro informático os atrasos do aumento salarial a médicos e enfermeiros. Nos acertos feitos esta semana aos funcionários públicos, que se iniciaram por trabalhadores da administração pública, estes profissionais de saúde ficaram para já de fora, devido a uma dificuldade em "parametrizar" os novos valores.
O Governo já tinha referido na sexta-feira que alguns dos aumentos ficariam para maio, e esta segunda-feira o jornal Público avançou que o adiamento contempla médicos e enfermeiros. O Ministério da Modernização e da Administração Pública frisava ainda que o problema não residia na falta de verbas, mas com dificuldades técnicas com que os serviços se têm defrontado.
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Roque da Cunha, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos, reage sem surpresa a este erro. "Também nas pequenas coisas se vê a consideração - pouca - que o Ministério da Saúde tem pelos seus profissionais. Apesar de muitas vezes os enaltecer - mesmo quando sabe que muitos deles estão a ser infetados, mesmo quando não lhes dá a proteção adequada, mesmo quando não os reconhece como profissão, como os seus colegas em França e na Alemanha -, até nestas pequenas coisas é desleixado."
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"A única coisa que me apetece comentar é este desleixo. Esta falta de cuidado não nos incentiva, mas também não nos surpreende."
Já Noel Carrilho, dirigente da Fnam, - Sindicato dos Médicos do Norte -, sublinha outros aspetos que indignaram a classe profissional. "Primeiro, a incompetência de, a esta altura, não ter sido possível realizar esse procedimento, que é um procedimento informático de atualização", e, em segundo lugar, vinca Noel Carrilho, algo "que é ainda mais infeliz,: quando chegar esse aumento, pouco se notará, porque estamos a falar de 0,3%, e não há muito por que ansiar".
"Mesmo quando vier, a diferença será pouca, e isso é que nos deixa apreensivos. O descontentamento vai mais nesse sentido do que no atraso de mais um mês num aumento com uma proposta quase ofensiva de 0,3%."
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A TSF tentou contactar também o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, mas sem sucesso.
A portaria que define o aumento geral de 0,3% de aumentos para a função pública e de dez euros para os salários até 700 euros foi publicada a 20 de março em Diário da República. Na sexta-feira, além de explicar o que estava na origem do não pagamento a todos os funcionários do Estado no fim do mês de abril, o gabinete da ministra Alexandra Leitão sublinhava também que em nenhum momento foi anunciado um mês para que os aumentos se produzissem.