Yunus, o banqueiro dos pobres, vem a Portugal defender a teoria dos três zeros

O Nobel da Paz, considerado pai do microcrédito, defende a tecnologia como bênção e maldição, num mundo construído à base de um sistema que suga a riqueza de baixo para cima.

Para Muhammad Yunus, é impossível ter paz sem acabar com a pobreza. Uma realidade que conhece bem desde a nascença. O economista nasceu no Bangladesh, no seio de uma família com 14 filhos, e vivenciou todas as dificuldades que o país atravessou desde a independência que o separou do Paquistão.

Nobel da Paz em 2006, fundador do Grameen Bank, que ajudou milhões de pessoas no mundo a sair da pobreza, através do conceito do microcrédito, vai ser orador do Fórum da Sustentabilidade, dias 19 e 20 de maio, em Matosinhos. Antes, falou com Rafael Barbosa, diretor-adjunto do JN.

Hoje afirma que o microcrédito desafia um sistema financeiro errado e que há uma "máquina" que suga toda a riqueza de baixo para cima e que empurra o dinheiro para o topo da pirâmide. Considera que os homens andam tão hipnotizados com o lucro, que se esquecem que todos somos seres humanos, e é preciso cuidar de outras coisas mais importantes, como a sobrevivência das espécies e do próprio planeta.

Tem grande esperança nas futuras gerações. Considera que os jovens estão em vantagem para trilhar novos caminhos para o futuro, uma vez que os velhos já se acostumaram ao atual status quo. Defende, por isso, a teoria dos três zeros: zero de aquecimento global, zero de concentração de riqueza e zero de desemprego.

Para Yunus, o próprio mundo criou o seu grande e grave problema com o aquecimento global e deixa no ar a questão: Às mudanças climáticas, juntou-se a pandemia, a guerra na Ucrânia e o aumento do custo de vida, será que estamos todos a levar a sério os efeitos que isso traz?

Já perante a revolução digital e os avanços constantes da tecnologia, considera que a inteligência artificial (IA) pode ser uma bênção, mas também uma maldição. Diz ser um grande entusiasta das novas tecnologias, mas questiona: Não serão também perigosas? Adianta que "todas as coisas bonitas que acontecem no mundo são por causa da tecnologia, mas não basta ver apenas o lado bom, porque se as tecnologias têm a capacidade de mudar o mundo da noite para o dia, quem está à frente delas também as pode usar de forma destrutível".

Para este homem com uma história de vida curiosa e reconhecido no mundo como um dos principais defensores dos direitos humanos, a humanidade tem pouco tempo, cerca de 30 a 50 anos, para salvar o planeta.

Talvez por isso uma das suas apostas é a educação, afirmando que "se queremos construir uma nova civilização então temos que voltar ao sistema educativo". No final do ano passado, anunciou a abertura do "Lisbon UNOS Innovation" um centro realizado em parceria com a Universidade Católica Portuguesa. Adianta que, se for usada a capacidade de contribuir para o bem-estar do ser humano, através de incentivos às universidades, criando redes sociais, centros de negócios, cursos e debates, explicando o que é a nova economia, responde-se a esse desígnio de tornar o mundo mais sustentável e o planeta melhor.

Yunus licenciou-se no Bangladesh, doutorou-se em economia na universidade de Vanderbilt, em Nashville, no estado norte-americano do Tennessee, onde também foram alunos Al Gore e John Nance Gamer. Foi ainda professor na Universidade de Dhaka e, em 1983, fundou o Grameen Bank (Banco do Povo), baseado na sua convicção de que o crédito é um direito humano fundamental. Em 25 anos, ergueu uma instituição financeira como a mais importante de uma rede de instituições similares em 100 países, permitindo que milhões de pessoas saíssem da pobreza, em especial, mulheres que auxilia, através da concessão de pequenos empréstimos.

Em 2006, Muhammad Yunus ganhou o Nobel da Paz, numa altura em que já era reconhecido internacionalmente como o pai do conceito revolucionário de microcrédito, baseado num sistema de concessão de pequenos empréstimos àqueles que o sistema tradicional bancário não empresta pela sua própria condição precária de vida. Já ajudou milhões de pessoas a escapar da pobreza e hoje o professor está ligado às Nações Unidas e arrecada já vários prémios internacionais pelos seus esforços humanitários.

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