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O Centro Hospitalar e Universitário de São João admite que as avarias quase diárias de um aparelho de radioterapia diminuíram o tempo de vida de doentes com cancro.
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A constatação está numa informação enviada pelos responsáveis hospitalares à Entidade Reguladora da Saúde (ERS) depois da queixa de um paciente que, após uma das avarias, teve de esperar mais um mês e meio para começar o tratamento.
Como o início desse tratamento já estava à partida atrasado - muito para além dos 15 dias previstos por lei como tempo máximo de resposta desde a indicação dos médicos para começar a radioterapia - o doente esperou, ao todo, cinco meses e meio.
A indicação clínica aconteceu a 24 de abril de 2018, o primeiro tratamento só foi marcado para 27 de agosto, mas com a avaria só começaria, de facto, a 10 de outubro.
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"Redução da sobrevida"
Na resposta lida pela TSF, numa deliberação da ERS, o hospital detalha que "o serviço de radioterapia possui dois aparelhos de tratamento", um deles "com 20 anos, já descontinuado pela empresa mas ainda em funcionamento, tratando 60 doentes por dia e que será desativado com a entrada em funcionamento do novo aparelho".
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Além do anterior aparelho, há um outro com 14 anos sendo este que tem dado "muitos problemas".
Numa resposta enviada à ERS em dezembro de 2018, o centro hospitalar diz que "apesar da grande intervenção realizada no início do ano as avarias mantinham-se quase diariamente levando ao adiamento de inícios de tratamentos, a interrupções longas de tratamento e consequente redução do controlo local e sobrevida, com claro prejuízo para os doentes".
Os responsáveis do São João, o maior hospital do Porto e do Norte, fazem questão de recordar, nesta resposta, que "o tratamento de radioterapia externa deve ser diário, estando relacionado com o crescimento tumoral".
"A constante interrupção do tratamento aumenta o tempo total de tratamento e diminui a sua eficácia (diminuição drástica do controlo local por aumento da duração do tratamento com proliferação tumoral)".
Os vários problemas levaram o serviço de radioterapia a decidir não realizar tratamentos usando este aparelho, optando por enviar os doentes para fora do hospital.
Regulador crítica hospital
No final da deliberação a Entidade Reguladora da Saúde censura o Hospital de São João, sublinhando "a especificidade e urgência do tratamento em causa, a qual não se compatibiliza com a imprevisibilidade de avaria do equipamento e o impedimento da prossecução daquele tratamento".
As avarias constantes não são desculpa, pois deveria ter sido encontrado logo um procedimento alternativo a este aparelho de radioterapia.
"Não é aceitável que o utente não tenha iniciado o tratamento de radioterapia, no tempo considerado aceitável, o que se revela contraditório com a necessidade de prestação tempestiva de cuidados de saúde".
