Camas destinadas à Covid perto do limite em Portugal. Urgências registam máximo de afluência

Regresso ao uso obrigatório de máscaras divide especialistas.

Por todo o país, as urgências hospitalares nunca tiveram tanta procura como nesta sexta vaga da pandemia em que o país mergulhou. O presidente da Associação de Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, alerta que se está a gerar a tempestade perfeita numa altura em que os hospitais estão também a tentar recuperar cirurgias e consultas que ficaram para trás.

"Uma grande percentagem de doentes respiratórios em que, depois de testados, cerca de 50% dos casos são positivos para Covid. O principal problema neste momento é, de facto, a procura dos serviços de urgência, que têm batido recordes de procura, números nunca antes vistos e essa é a principal preocupação. Em termos de ocupação global de camas estamos a falar de cerca de 8.50% de doentes Covid que, apesar de tudo, é comportável, embora esteja no limite das camas Covid que estavam de reserva", revelou à TSF Xavier Barreto.

O responsável sublinha que, ainda assim, os doentes são agora menos graves, mas alerta que para aliviar as urgências é preciso voltar a oferecer testes gratuitos e melhorar a Linha de Saúde 24.

"Há, de facto, um efeito notório da vacina no sentido em que temos menos doentes graves e ventilados. Estamos é a falar de um volume enorme de doentes que procura os serviços de urgência por ausência de respostas noutros locais e níveis de cuidado. O que faria sentido era introduzir medidas que mitigassem a procura dos serviços de urgência. Estamos a falar da reintrodução dos testes da farmácia e reforço da Linha da Saúde 24", sugeriu o presidente da Associação de Administradores Hospitalares.

Perante a velocidade a que está a crescer a sexta vaga de Covid-19 em Portugal, Gustavo Tato Borges, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, considera que é preciso dar um passo atrás. Lamenta que a política se tenha sobreposto à ciência mas, no cenário atual, defende que é preciso repor a máscara em quase todos os recintos fechados.

"Temos de começar a olhar de uma forma técnica para este problema outra vez e voltar a implementar o uso de máscara obrigatório nos espaços fechados, dando um passo atrás naquela que foi a decisão do Governo a 22 de abril e que contrariou aquilo que era o plano de levantamento das medidas definido pelo grupo técnico que o aconselhava, cedendo a uma pressão grande por parte de todos. O único local onde possivelmente não seria obrigatório voltar a introduzir as máscaras seria o ambiente escolar", afirmou à Gustavo Tato Borges.

A mesma opinião é partilhada pelo matemático Óscar Felgueiras, que defende que é hora de voltar a usar máscara, sobretudo junto dos mais idosos, onde a incidência da Covid-19 está a atingir níveis nunca vistos. O especialista, que tem aconselhado o Governo nas medidas sobre a pandemia, sublinha que o número de novas infeções está a aumentar muito depressa, em todas as idades, o que é uma ameaça, sobretudo para os mais velhos.

"Estamos aqui num crescimento muito forte em todas as faixas etárias, quer nos jovens, quer nos idosos. Pelo crescimento estar a ser forte nos idosos estamos a atingir agora os valores máximos de incidência nessa faixa etária. Por um lado temos um valor de número de testes muito inferior e, por outro, as pessoas que se testam já têm alguma suspeita e o teste vem positivo em quase metade delas", explicou à TSF Óscar Felgueiras.

O especialista aponta que 44% das pessoas que se testam estão infetadas, mas muitos não o fazem. O aumento de casos deve-se, em grande parte, à nova linhagem da Ómicron, a BA.5, mas também ao levantamento de restrições como, por exemplo, as máscaras, que poderão ter de ser outra vez obrigatórias.

"Neste momento, como não é obrigatório, diria que, acima de tudo, seria fortemente recomendável fazer tudo para proteger os idosos. Esta medida de início do processo de vacinação será um passo nesse sentido, mas não vai produzir efeitos a curto prazo. É necessário algum mecanismo de defesa alternativo, pelo menos haver um certo cuidado adicional com os idosos. Essa é uma mensagem que deve passar para a população", aconselhou o matemático.

"Devem ter comportamentos mais preventivos"

Como nem sempre os especialistas concordam uns com os outros, Tiago Correia, especialista em Saúde Pública Internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, também ouvido no Fórum TSF, diz acreditar que não é preciso dar um passo atrás, mas deve reforçar-se a informação que é passada às pessoas.

"Neste momento deve explicar-se às pessoas que há um aumento do contágio e que, para fazer face a este aumento, as pessoas devem testar-se se tiverem sintomas por uma questão de despiste. E, se tiverem sintomas, devem ter comportamentos mais preventivos como não ter almoços e jantares com amigos e família, utilizar mais vezes a máscara, resguardarem-se um pouco mais. Não é para as pessoas terem medo do vírus, é simplesmente para evitar que exista um número tão significativo de pessoas que, ao mesmo tempo, contraem o vírus. Sabemos que que isto vai causar a tal pressão indireta sobre os cuidados de saúde, que já não é causada pela Covid como foi no passado", esclareceu Tiago Correia.

Esta nova vaga de infeções já se faz sentir nos lares, conta à TSF João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Lares de Idosos.

"Estão a chegar-nos notícias de alguns surtos. São situações pontuais, mas realmente está a aumentar o número de casos em lares. Por enquanto não é muito alarmante. A origem destes surtos será a mesma de sempre: ou através de visitas, saídas de idosos com familiares ao exterior ou pelas profissionais que trabalham nos lares, que devem manter os cuidados mesmo depois de saírem de serviço. A maioria delas vai de casa para o trabalho de transportes públicos, o que é um risco acrescido", acrescentou João Ferreira de Almeida.

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