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Mais de duas centenas de pessoas assinaram uma carta aberta que defende o regresso ao ensino presencial e a reabertura de algumas escolas - creches, pré-escolar e ensino básico (gradualmente) - a partir do início de março.
A missiva, intitulada "Prioridade à escola", foi enviada ao Governo e ao Presidente da República e publicada esta terça-feira na íntegra no Expresso. É subscrita professores, economistas, cientistas, médicos, psicólogos, pediatras, epidemiologistas e gestores, entre outros.
Defendem ainda que deve ser dada prioridade às componentes práticas do ensino artístico e profissional, reforçadas as medida de segurança já em vigor nas escolas e adotadas novas regras, como o uso obrigatório de a máscara cirúrgica a partir dos 6 anos.
Os professores e auxiliares de ação educativa devem ser incluídos nas prioridades de vacinação e os profissionais nos grupos de risco ser "substituídos por outros ou deem aulas remotamente (com os alunos na escola) até que estejam vacinados", apelam.
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Fazer rastreios periódicos, testes rápidos, vigilância de contágios, insistir na proibição de reuniões fora da escola, desfasar ainda mais os horários de entradas e saídas, incentivar o uso de meios de transporte alternativos e aumentar a oferta de transporte público são outras propostas dos signatários desta carta.
Pedro Simas, que também assina a petição, acredita que, com a descida dos números de novas mortes e casos de contágio, em breve o país vai estar pronto para desconfinar. Em declarações à TSF, o virologista, admite que se trata de "uma decisão difícil", uma vez que, obriga ao equilíbrio entre a ciência e outros setores da sociedade, mas neste momento já "estamos em posição de a tomar".
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas Filinto Lima, também signatário, é da mesma opinião. À TSF, defende uma abertura "faseada" das escolas, a começar pelos mais novos. Os alunos do ensino secundário, que já têm mais autonomia, "podem ser os últimos a regressar às escolas".
O diretor considera que "as escolas estão preparadas "para regressar ao ensino presencial e destaca o impacto positivo dos testes de antigénio, mas apela à vacinação dos professores, assumindo que "nunca há risco zero".
Os signatários da carta argumentam que "nas escolas são aplicados rígidos protocolos sanitários, que garantem o uso correto dos dispositivos de segurança individuais durante grande parte do dia e que evitam a formação de agrupamentos nesses espaços". Além disso, apontam, as crianças desempenham um papel importante na "disseminação às famílias de atitudes promotoras de saúde".
Outro argumento a favor do ensino presencial, suportado pela "experiência clínica de alguns dos signatários desta carta", relaciona o confinamento e encerramento das escolas com aumento de problemas psicológicos e psiquiátricos das crianças e jovens.
Além disso, "as escolas são fundamentais para o desenvolvimento harmonioso, o desempenho académico, a participação no mercado de trabalho e a cidadania responsável", bem como "melhorias cognitivas, mas também motoras, sociais e emocionais", destaca-se.
Por outro lado, defendem os signatários da carta, "o ensino a distância é menos eficaz do que o ensino presencial e tem sido um multiplicador de desigualdades", penalizando os alunos mais vulneráveis. Muitos pais não conseguem apoiar os filhos porque têm baixo nível de qualificações, falta material adequado, cobertura de internet, e muitas crianças sofrem "pobreza energética e habitacional".
"Mais de um quarto das crianças até aos 12 anos vivem em casas com problemas de humidade e infiltrações, 16% em alojamentos sobrelotados, 13% em casas não adequadamente aquecidas. Há 9% das crianças abaixo dos 12 anos cujas famílias não têm capacidade financeira para oferecer uma alimentação saudável", pode ler-se.
Mais do que manter as escolas encerradas, defendem os apoiantes da missiva, o Governo devia adotar medidas "que poderiam contribuir para controlar a epidemia de maneira igualmente ou até mais eficaz", como apostar no rastreio das cadeias de contágios.
Os estabelecimentos de ensino estão encerrados desde o final de janeiro, quando o Governo anunciou a suspensão das atividades letivas durante duas semanas, que seriam compensadas no Carnaval, Páscoa e numa semana extra do final do ano letivo. Entretanto, as aulas foram retomadas há duas semanas, mas em regime de ensino à distância, não havendo ainda data para o regresso às escolas.
