Depois da revelação dos abusos sexuais, já há quem tenha pedido para anular batismo

João Pimenta e Andreia Novo fizeram um pedido de apostasia às respetivas paróquias. Não querem estar associados à Igreja Católica nem fazer parte do número de pessoas batizadas em Portugal.

Depois de terem sido revelados os abusos sexuais na igreja, já existem pessoas a pedir a anulação do batismo. Querem deixar de pertencer às estatísticas que indicam a existência de milhões de pessoas batizadas em Portugal e, acima de tudo, pretendem demarcar-se da história da igreja.

Mesmo não tendo surpreendido João Pimenta, as revelações feitas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja foram a gota de água. No entanto, para o músico de 41 anos, o descontentamento com a igreja católica já vem de trás.

"Eu, como estudei História, consegui ver o que a igreja fez ao longo de séculos, principalmente às pessoas", atira em declarações à TSF. João Pimenta afirma não ficar agradado com o passado do cristianismo, considerando que a igreja é "uma instituição política", que se afigura como "a continuação do império romano", e acusa-a de ser "muito fechada".

Por tudo isso - e apesar de ter frequentado a catequese até ter feito a primeira comunhão -, o músico, que é formado em História, decidiu solicitar a anulação do seu batismo. Para fazer o pedido de apostasia, bastou enviar um e-mail para a respetiva paróquia em que foi batizado.

A resposta do padre de Santa Maria Maior de Barcelos não tardou. Segundo João Pimenta, o pároco pediu-lhe para "ter calma", uma vez que o número de abusadores representa "uma parte muito pequena da instituição" e "foram pedidas desculpas às vítimas", para além de que "a própria igreja está arrependida".

O padre, no relato do músico feito à TSF, disse ainda que João Pimenta podia "incorrer em riscos, como ir para o inferno", caso efetivasse o pedido de apostasia.

O barcelense conseguiu anular o batismo, apesar de o padre o ter tentado demover. O músico contra-argumentou, apontando para vários momentos da história do cristianismo que estão por explicar, "porque parte dos escritos desapareceram", e que conta com episódios ficcionais, acusa.

Bem mais fácil foi o caso de Andreia Novo, que também enviou um e-mail com o pedido "muito consciente" de anular o batismo, depois da revelação dos abusos sexuais na igreja, que, na sua ótica, "nada têm a ver com religião".

A funcionária administrativa de 47 anos afirma que nunca se reviu na fé católica e que o escândalo sexual foi o gatilho para solicitar a apostasia.

Por parte da paróquia em Espinho, Andreia Novo recebeu uma resposta dizendo que a igreja está disponível para voltar a admiti-la como batizada e com a garantia de que a instituição estará "sempre do lado de lá para o que for preciso".

Depois disso foi com "alívio" que encarou o corte com a igreja.

"Deu-me a entender, de uma forma mais introspetiva, que se calhar eu andava com esta questão a arrastar, porque eu sempre fui muito crítica da igreja católica, da forma como é gerida, a empresa milionária que é", conta à TSF.

Por isso, diz Andreia Novo, nunca ponderou sequer batizar os dois filhos que tem.

A TSF contactou a Conferência Episcopal Portuguesa para saber quantas pessoas batizadas existem em Portugal e quantas decidiram anular o batismo. No entanto, não obtivemos resposta.

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