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O infeciologista Jaime Nina acusa a ministra Marta Temido de não ter formação para estar à frente do setor da Saúde e não tem dúvidas de que o ministro das Infraestruturas e da Habitação não leu as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Em declarações à TSF, o especialista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical reagiu às recentes declarações do ministro Pedro Nuno Santos, que admite acabar com os limites de lotação nos transportes públicos devido à Covid-19.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação desvalorizou a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus nos transportes públicos e insistiu que Portugal é "dos poucos países da Europa" onde há restrições deste género.

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Jaime Nina acusa o ministro de estar "mal informado" e garante que os riscos de contágio nos transportes urbanos são reais e significativos.
"Lamento muito, mas, se o sr. ministro disse isto, foi mal informado. O site da Organização Mundial de Saúde (...) diz precisamente quais são os riscos dos transportes públicos e que, sempre que for possível, deve manter-se o distanciamento físico. Está lá escrito, com todas as letras", atira.
Jaime Nina alerta que o risco de contágio em transportes públicos é de alta importância
O especialista considera também que "dizer que podemos liberalizar o número de passageiros nos transportes públicos porque outros países europeus já o fizeram é demagógico", uma vez que a situação da epidemia "não é igual em todos os países". "Infelizmente, Portugal está entre aqueles que ainda não conseguiram controlar o risco", lembra.

O infecciologista Jaime Nina ataca as declarações de Pedro Nuno Santos e o percurso de Marta Temido
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O infecciologista acredita que o que está na base da eventual decisão de pôr fim às restrições nos transportes públicos são fatores económicos, mas defende que o Governo deveria ser transparente quanto a esse aspeto.
"É muito mais barato produzir uma portaria que liberaliza os transportes públicos do que comprar mais carruagens de metro, mais carruagens de comboio e mais autocarros. Já não falando em contratar mais pessoal para guiá-los, porque eles não andam sozinhos. A parte económica é importante e eu posso perceber isso", constata Jaime Nina. "Agora, preferia que houvesse transparência e que o sr. ministro dissesse: "Nós não temos condições económicas para continuar com estas medidas, portanto, seja o que Deus quiser!"."
O infecciologista considera que o plano económico está a pesar mais na decisão do Governo
"É como ter um piloto sem formação para voar"
Também a ministra da Saúde, Marta Temido, não escapa às críticas de Jaime Nina. O especialista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical afirma que o rastreio de contactos e o isolamento de casos de infetados com Covid-19 - que são "medidas básicas de controlo da epidemia" - não estão a ser feitos. E que a ministra da Saúde, "obviamente, tem grandes responsabilidades".
"A responsável pelo setor [da saúde] é advogada. Não é propriamente a pessoa que eu gostaria de ter, neste momento, à frente do Ministério da Saúde", refere.
"Se fosse apanhar um avião (...), gostava que a pessoa que estivesse a pilotá-lo, em vez de um piloto, fosse um advogado? É essa a situação que temos na Saúde em Portugal", atira.
O especialista critica a ARS de Lisboa e a ministra Marta Temido
Jaime Nina deixa ainda palavras negativas sobre a criação de uma comissão específica para lidar com a situação epidemiológica na região de Lisboa. É que, para o infecciologista, as responsabilidades pelo controlo da Covid-19 nesta zona pertencem à respetiva Administração Regional de Saúde (ARS).
"À boa maneira portuguesa, quando há uma instituição que não está a funcionar bem, em vez de se substituir os responsáveis, cria-se uma estrutura paralela. Está-se mesmo a ver que vai haver conflitos de competências, problemas e descordenação", aponta. "Foi uma má solução."