
O sono dos portugueses "piorou em média 10%"
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Um estudo que envolveu 5500 portugueses desde março revelou uma "pequena deterioração" no sono dos inquiridos durante o confinamento. Os níveis de depressão também foram mais baixos do que o esperado, mas 70% da população adulta revelou ter alguma doença.
A pandemia não foi tão má para o sono dos portugueses como poderia ser de esperar. Os vários momentos de confinamento que o país atravessou desde março motivaram um aumento de problemas relacionados com o bem-estar da população, mas "não foi uma coisa catastrófica", diz a médica neurologista Teresa Paiva, coordenadora desta investigação de vários meses.
O estudo, que envolveu várias universidades, teve a participação de 5500 portugueses com idades entre os 18 e os 99 anos, incluindo médicos, enfermeiros, professores, psicólogos e outros profissionais que estiveram na linha da frente e também doentes acompanhados em 19 laboratórios de sono de todo o país, além de cidadãos que responderam a um inquérito online.
Resumindo as principais conclusões para a TSF antes de apresentar o estudo no congresso da European Sleep Research Society (ESRS), Teresa Paiva explica que o sono dos portugueses "piorou em média 10%", algo que é encarado como uma "pequena deterioração". No entender da especialista, "isso indica que [o confinamento] se calhar não foi assim tão mau como as pessoas pensam", apesar de os inquiridos terem manifestado "muita preocupação em relação ao futuro".
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Os níveis de depressão declarados por quem respondeu ao inquérito também estiveram abaixo do que seria de esperar: "A média na escala de depressão, de um a dez é quatro, portanto é muito pequena." O mesmo valor (4) foi referido quanto à atividade sexual dos inquiridos durante a pandemia.
Outros dados indicam que "39% disseram estar fartos da crise, 32% sentiram falta da família e amigos, 27% estiveram bem, 12% sentiram-se sós e 15% fizeram descobertas que mudaram as suas vidas".
"Apesar de tudo, a pandemia veio trazer alguma tranquilidade a muita gente que a andava a viver num sufoco", considera Teresa Paiva dando o exemplo de quem deixou de ter o stress diário de levar filhos à escola e enfrentar o trânsito.
Um dos dados que a médica considera mais preocupante é o facto de apenas 30% dos inquiridos terem declarado que se sentiam saudáveis. "Este estudo revela que a maior parte das pessoas tem um número significativo de doenças comórbidas e isso quer dizer uma coisa que nunca é dita: é que a população portuguesa adulta tem muitas doenças. É uma coisa que se tem de pensar", enfatiza a neurologista.
Outra preocupação está relacionada com as três pessoas que responderam terem tido pensamentos suicidas durante o confinamento. "É muito importante, são só três, mas é muito importante porque cada uma delas é uma vida."
Este estudo coordenado por Teresa Paiva em regime "pro bono e sem quaisquer apoios financeiros" envolve cerca de 40 investigadores que agora vão tentar tentar perceber as implicações da pandemia em cada grupo profissional e também "os efeitos dos comportamentos das pessoas no sucesso ou insucesso da adaptação ao confinamento".
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